Artigo: A ordem unida de Marcelo em Jair

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Luiz Recena Grassi, de Portugal

O presidente de Portugal passou quatro dias no Brasil e tinha encontros marcados com quatro políticos importantes: três ex-presidentes. Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Lula da Silva, pré-candidato a voltar ao poder. O quarto foi aquele que a Marcelo Rebelo de Souza não deu a mão. Em grosseria única, mas sintonizada com sua falta de educação pessoal e política, o capitão Jair Bolsonaro não recebeu o líder português e cancelou um almoço marcado com a antecedência do protocolo diplomático.

Esta não foi a primeira nem será a única no rol das grosserias de governos do Brasil contra Portugal. Marcelo esteve com Lula, Temer e FHC. Este último, menos ativo que os outros, manteve-se super discreto, a deixar a política a seu sucessor e a Temer. Marcelo, como é tratado por aqui, apressou-se em declarar que “as relações com o Brasil continuam mais do que cordiais”. Um tapa de luva na grossura do capitão, que, aliás, não é da caserna, embora muitas vezes associada de forma correta.

O general João Figueiredo tinha fama de milico grosso; Itamar Franco, de civil bicho do mato. O militar visitou Portugal, o civil, não. As hoje cordiais relações nem sempre foram assim. O governo do luterano general Geisel teve gestos e gestos. Não gostava de Salazar nem do salazarismo. Terminou a novela com o histórico voto de abstenção na ONU sobre a guerra colonial em África. A diplomacia portuguesa não gostou e foi assim até o 25 de abril. Depois do cravo, a ferradura: Geisel demorou a conversar com o governo dos capitães de Grândola Vila Morena, que pagou na moeda corrente ao decretar luto oficial pela morte Juscelino Kubistchek antes do governo dos generais.

De lá para cá, as relações têm sido sempre boas, muito boas. O dinheiro brasileiro é bem recebido, o turismo tem sido muito ativo e o investimento no imobiliário e no lazer só aumentam, bem como cresce o contingente de imigrantes, mão de obra qualificada ou não. Os legais ultrapassam os duzentos mil; os ilegais, ninguém sabe. Aqui há problemas, pois os nossos nem sempre são bem tratados pelos governos, imigração, mão pesada da polícia, que não privilegia o fino trato. Muitas vezes os nossos saem da linha, o que não justifica o excesso dos castigos.

Agora, estamos próximos de nova e dura rusga entre os governos. As eleições em Pindorama devem mexer com os humores brasileiros e portugueses, com lulistas saudosos e ativos a fazer campanha antecipada. O governo a defender-se como pode, mas sem contar com os meios, a eficiência e o engajamento de seus opositores. As redes sociais e as verbas públicas ajudam, e muito. Porém são ainda insuficientes. Elas, as verbas, velhas ou novas, tardarão um pouco mais para influir nas previsões de resultados. As pesquisas até agora traduziriam o desejo majoritário de eleitor lulista em vê-lo dirigir o país em novo mandato. Marcelo pode ir ao Brasil de novo em setembro. As eleições estão marcadas para outubro. Aí sim o momento estará delicado.

Vicente Nunes