Artigo: A escuridão dos conflitos

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Por LUIZ RECENA GRASSI

Manhãs negras na Ucrânia. O presidente Volodimyr Zelensky, autor da frase, perdeu razão e riso para um balanço. Bombardeios russos continuam duros, letais. Baixas: meia centena em Dnipro, vítimas aleatórias em pequenas vilas e um helicóptero que caiu e explodiu em Kiev. Uma dezena de mortos, duas de feridos. Entre óbitos, um ministro do Interior e o vice. Antes disso, bombas produziram quadros feios, tristes em Solemar. Foram muitas vítimas fatais.

Derrota grande para Zelensky. Somou tudo a notícias sobre reforços e armas. A Defesa europeia não se entende, não chega a acordo. Tanques não vêm e a Ucrânia garante que sem eles não há chance de bom desempenho. E tem a Alemanha ainda, com sua pouca vontade de sustentar com carros de combate a vontade bélica da Ucrânia. Pressionada pelos EUA, foram claros: que os americanos mandem o armamento necessário, pois os germânicos não estão a fim de provocar e manter uma guerra contra a Rússia. E nisso vai ficar o jogo: empate.

No grupo europeu, reduz a participação de alguns países mais fortes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — Inglaterra e outros —, sobra pouco. Segundo acadêmicos dos EUA, conselheiros da Otan teriam vontade para gestos sobre paz. Ainda é cedo, só que quadros e variáveis indicam tênue desejo de negociar. No meio disso, há o grupo da “pobreza armada”, gradação para países mais pobres, com poucas armas, e a maioria sem armas, só comida parca, sem energia, luz ou gás. Pouco para si e menos a dar. Quadro sombrio.

Uma figura brilha no cenário: Henry Kissinger. Com uma centena de anos, sempre a trabalhar pela paz, o velho assesor avisa que estaria tudo pronto para começar uma negociação. Basta decisão de ucranianos e russos. A vontade dos litigantes indica baixo interesse. Ninguém quer. E sobre EUA não se ouve uma letra, não se escreve uma palavra. Há muitas armas, sobra dinheiro. Só se quer vender e, para isso, há parceria, a começar pelo Canadá e outros países anglo-saxões. A semana ucraniana parecia terminar assim, tristeza e vítimas colaterais. Europeus só prometem armas para a Ucrânia. Poucas e misturadas. Sem um domínio técnico maior por quem vai usá-las. Nem data para início de entregas. A Ucrânia, porém, não quer mais sucata soviética. Novo problema.

Para enfrentar indecisão e confusão europeias, Joe Biden salvou o mês: vai mandar quase U$ 3 bilhões em armas e munições. Decisão unilateral, disse que é tudo para já. Há tanques leves, de transporte e outros. Há mísseis, pequenos e grandes, e datas: devem estar em positivo-operante antes do verão começar, pois tempo seco ajuda. Faltou Putin, o vitorioso e os aliados do Grupo Wagner e novos generais. Estratégia correta, vitória tranquila, diz o chefe do Kremlin. Com boa mão de cartas e mesa cheia de fichas. Quadro da paz pronto. Falta quem se interesse.

O CORREIO SABE PORQUE VIU

Estava lá. No tempo sem guerra os russos são simpáticos. Afáveis. Gostam do riso, diversão. E de vodka, sempre presente, na alegria e todas as ocasiões. Via-se de tudo, mais nas longas noites de verão. Russos, estrangeiros, soviéticos das repúblicas liberavam desejos. Instintos. A Praça Vermelha era a favorita, até porque fechava certa hora. Aí reinava o proibido: vodka numa ponta da praça, cannabis em outra, xixi num cantinho. Jovens iam tocar. Tudo permitido. Quase: menos o túmulo de Lênin. Os guardas riam de tudo, menos de quem se aproximasse da Múmia. Nada de acordo, só castigo.

A Praça recolheu casos hilários, tensos ou bem tristes. Tudo acabou bem para os amigos que fiz. Setembro recolhia projetos para novas noites brancas. Leningrado. Noites detidas pelo sol a uma da manhã. No trem, ao se pensar qualquer coisa vinha a luz. Manhã antes das quatro, mais brilho que sombra. Haja vodka. Lento jantar. Manhã com café misturado para iniciar bem o dia. Na guerra perde-se tudo. Ficam luto, tristeza e medalhas.

Vicente Nunes