PAULO DE TARSO LYRA
Henrique Meirelles sempre tem, em mente, a convicção de que está exercendo um cargo aquém das próprias capacidades. Ex-presidente mundial do BankBoston, deputado federal mais bem votado em Goiás em 2002, ex-presidente do Banco Central no governo Lula e atual ministro da Fazenda de Michel Temer. Tudo de olho em um caminho único: a rampa que leva ao terceiro andar do Palácio do Planalto.
A rampa, agora, ficou muito mais íngreme para Meirelles. Não que não fosse antes. Afinal, o titular da Fazenda pode ser inteligente, mas não é nada carismático e, em matéria de votos, pouca gente aposta que seja um sucesso nas urnas. Foi eleito bem para deputado federal por Goiás, mas nunca disputou uma eleição majoritária.
Mas, na semana que passou, Temer e o PMDB fecharam as portas para Meirelles. “Ele fica dizendo que o núcleo político do governo pressionava pelo aumento da meta de déficit fiscal. Quer mais núcleo e mais político do que o presidente Temer”?, indigna-se um aliado do titular do Planalto.
Romero Jucá foi o porta-voz da insatisfação do grupo ao anunciar os R$ 159 bilhões de rombo antes da coletiva da equipe econômica. Renan Calheiros diz para quem quer ouvir que Meirelles está cada dia mais fragilizado porque as previsões dele para a economia não vêm se concretizando. E ainda critica quando o responsável pela economia diz que continuaria no cargo mesmo que Temer caísse. “Política não tem manual. Mas requer um mínimo de sofisticação”, completa.
Meirelles sabe que precisa adotar medidas amargas para corrigir a economia. Mas a avaliação de que o deficit fiscal continuará até 2020 não o ajuda. Defender o adiamento do reajustes dos salários do funcionalismo público o torna malquisto na capital federal. Apresentar a reforma da Previdência transforma-o em tiranos para aqueles que sonham para migrar do paletó para o pijama.
Além disso, outros players próximos do mercado – e já testados nas urnas – como o prefeito de São Paulo, João Doria, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, têm demonstrado um certo apetite para ocupar esse nicho eleitoral para 2018. Doria é um fenômeno nas redes e Maia conquistou a confiança de Temer. Meirelles parece ser uma carta descartada.
Brasília, 10h25min