Após cartinha de Bolsonaro, Bolsa não demonstra muita euforia

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ROSANA HESSEL

Um dia depois de um princípio de euforia com a perspectiva de recuo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos ataques à Constituição e aos demais Poderes, com a divulgação da cartinha “conciliadora” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) apresenta altas e baixas nesta sexta-feira (10/9) e segue sem muita variação em relação à véspera.

Após abrir com no azul e voltar a ficar acima de 116 mil pontos, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, não conseguiu se sustentar nesse patamar por muito tempo e voltou a ficar em torno de 115 mil pontos, com valorizações oscilando entre 0,07% e 0,12% pouco depois das 11h40.

Na avaliação de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o mercado está tentando defender as suas posições, mas o clima não é de euforia após o tombo de quase 4% no primeiro pregão depois do feriado de 7 de Setembro, quando, pelas estimativas da Economática, a B3 perdeu R$ 195,3 bilhões em valor de mercado. “Euforia teria se tivesse alguma surpresa. A sensação é que a agenda de reformas não vai avançar mais nada”, explicou.

“Na quarta-feira, muitos montaram posições, em câmbio e bolsa, precificando um cenário pior. Mas, durante a tarde de ontem foram surpreendidos. Hoje, estão tentando defender suas posições. O dólar foi para baixo de R$ 5,20 e logo voltou”, afirmou Cruz. Segundo ele, o dia é positivo, com melhores expectativas em relação ao cenário externo e interno. “Os investidores querem ver China e EUA dialogando. Afasta o risco de guerra comercial”, disse. Cruz lembrou que, no mercado doméstico, os dados de crescimento de 1,2% nas vendas do varejo em julho, surpreenderam positivamente e ajuda a evitar uma queda na Bolsa. “Os dados injetam ânimo de uma reabertura forte”, acrescentou.

Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, lembrou que a surpreendente a mudança do discurso de Bolsonaro para “conciliador” e com a perspectiva de uma ação mais restritiva dos juros pelo Banco Central, ajudaria em uma revalorização do real para patamares inferiores a R$ 5,20, mas devido aos riscos fiscais, como precatórios, reforma do Imposto de Renda, e teto dos gastos podendo ruir em 2022, que não foram solucionados, o dólar continuará valorizado, acima de R$ 5. “O ‘Day After’ beneficia revalorização do real com Selic (taxa básica da economia) maior e IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) quase em 9%. Riscos fiscais demandam solução no Orçamento de 2022 na curva de juros, mas pós-carta pode beneficiar solução dos precatórios nas próximas semanas”, destacou.

De acordo com Velho, o ritmo de alta dos juros parece estar mais lento que a inflação de curto prazo, com uma taxa de juros negativa em termos reais e correndo “atrás da curva”. Meu cenário anterior de piso da Selic em 8,5% já seria otimista. Estimamos, de forma preliminar,  alta no IPCA de setembro em 1,19%, o que deve levar a inflação acumulada em 12 meses para 10%”, complementou.

Vicente Nunes