Ao emparedar o PSDB, Temer cobra infiéis

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PAULO DE TARSO LYRA E ROSANA HESSEL

O governo emparedou ontem o PSDB no debate da reforma da Previdência. Um dos principais articuladores do governo, o chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha, foi duro ao afirmar que os tucanos não estão mais na base de apoio governista. A declaração foi dada dois dias após os tucanos acertarem, por consenso, que o futuro presidente da legenda será o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. “Vamos fazer de tudo para manter base de sustentação do governo e projeto único de governo para 2018. O PSDB já disse que vai sair”, declarou Padilha.

As palavras de Padilha têm dois objetivos. O primeiro deles é deixar claro aos demais partidos da base aliada que, agora oficialmente, haverá mais espaço para os fiéis que apoiarem as mudanças nas regras de aposentadoria. E também um puxão de orelhas nos tucanos governistas, para que estes se movimentem em busca de votos favoráveis à reforma. A análise palaciana é de que, se o PSDB buscou o consenso em torno do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e, ainda assim, não tiver uma maioria favorável à Previdência, passará a imagem de que é o governador de São Paulo que está pouco à vontade para defender as mudanças. Padilha cobrou coerência.

“Circunstâncias propostas momentaneamente, ao meu juízo, não alteram a história do PSDB em relação à Previdência Social. Deverá haver debate no PSDB em razão da sua história, independentemente de estar no governo ou não. É pela sua história. Contamos que isso (apoio à reforma da Previdência) venha a acontecer”, disse Padilha.

Negativa

Aparentemente, as palavras de Padilha surtiram efeito, mesmo o presidente Michel Temer tendo negado, após almoço com empreendedores e pequenos empresários, considerar que o PSDB seja carta fora do baralho governista. No fim da tarde, o presidente abriu espaço na agenda para uma série de parlamentares tucanos, como os senadores Roberto Rocha (MA); Aécio Neves (MG); Antonio Anastasia (MG); e os deputados Marcus Pestana (MG) e Bruna Furlan (SP). Aécio é o principal fiador da aliança tucana com o Planalto.

Padilha ressaltou a necessidade imperiosa de aprovar a reforma. “Se não houver reforma da Previdência, no ano de 2024, todo o Orçamento da República só paga folha, Previdência, saúde e educação. Se não fizermos nada, vai acontecer como aconteceu na Grécia e em Portugal, onde parte das aposentadorias teve que custear o sistema”, disse o ministro. O líder do partido na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), contudo, não engoliu com tranquilidade as palavras de Padilha. Mais alinhado aos chamados cabeças-pretas do partido, ele disse que o partido não pode ser responsabilizado pelas dificuldades de o governo conseguir os 308 votos para aprovar a Previdência.

“É notório que as dificuldades do governo para consolidar apoio à PEC foram agravadas pelas denúncias da Procuradoria-Geral da República, com a progressiva falta de coesão na base. Não é papel da bancada do PSDB mobilizar os aliados do governo. São necessários 308 votos para aprovação da PEC. Hoje, os 46 votos do PSDB seriam insuficientes para suprir o deficit de apoio no plenário”, declarou Trípoli.

O líder da bancada defendeu ainda o partido dizendo que não está em debate se o tema é popular ou não. “O PSDB não se guia pela impopularidade dos temas ou pela proximidade do calendário eleitoral. A votação de medidas importantes como a PEC do Teto de Gastos, a Lei das Estatais, a Terceirização, a reforma Trabalhista, o marco regulatório do Petróleo, entre tantas outras, aprovadas com sólido apoio do PSDB, confirmam nosso compromisso com a agenda de reformas e nossa opção pela responsabilidade”, completou.

Brasília, 12h11min

Vicente Nunes