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Andre Braz, da FGV, estima IPCA de outubro maior que o de setembro

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Os indicadores de inflação de setembro mostram que os preços dos alimentos continuam em alta, corroendo o poder de compra do consumidor brasileiro em plena crise provocada pela pandemia. Estimativas do economista Andre Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), apontam que, em outubro, não haverá trégua.

 

O analista de inflação do FGV Ibre acertou a variação de 0,64% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em setembro, o indicador da inflação oficial será maior do que o do mês passado, que ficou acima das expectativas do mercado.  Ele prevê o IPCA subindo de 0,80% a 0,90% neste mês.

 

“Nossas coletas indicam número para IPCA de outubro bem alto, devido ao início da retomada do setor de serviços, que começam a pressionar preços, como passagens aéreas, compensando uma leve queda nos alimentos. Além disso, a demanda por bens duráveis, principalmente, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, que deve aumentar nesse início do período de férias e os fabricantes devem repassar a alta dos custos com o câmbio mais elevado”, adiantou Braz, em entrevista ao Blog. O especialista prevê expansão de 2,5% para o IPCA deste ano, mas com “viés de alta”.

 

A alta do IPCA de setembro, de 0,64% em relação a a agosto, foi a maior para o mês desde 2003, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desta sexta-feira (9/10). A inflação dos mais pobres, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em setembro foi de 0,87%, o maior patamar desde 1995.

 

O FGV Ibre divulgou, hoje, dados do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) referentes à primeira prévia de outubro, apontando desaceleração em relação ao primeiro decênio de setembro, de 4,41% para 1,97%. Contudo, Braz minimizou o dado e descartou um arrefecimento na carestia. Ele acredita que, ao longo do mês, os preços de commodities, que são negociadas em dólar que deverá continuar elevado diante das incertezas em relação ao controle das contas públicas. Além disso, os preços de materiais para construção continuarão pressionando os preços no atacado medidos pelo IPA, e, consequentemente, isso será repassado para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), no entender do analista.

 

“Não vejo espaço para o IPC desacelerar muito. Existe um efeito defasado que vai bater no indicador e ele vai continuar registrado pressão maior para a inflação. Os repasses vão acontecer e ainda vamos ver alguns efeitos da liberação do comércio e de serviços, que andaram de lado o ano inteiro também devem pressionar o IPCA”, apostou Braz.

 

Enquanto o IGP-M acumula alta de 16,65% no ano e de 19,45% no acumulado em 12 meses. O IPA subiu 2,45% no primeiro decênio de outubro, acumulado elevação de 23,08% no ano, puxado pelos preços dos alimentos, que subiu 8,39% acumulado do ano e 10,90% em 12 meses até outubro.

 

Na avaliação de Braz, no entanto, os dados de inflação ainda não refletem um aquecimento na economia, que ainda está em recessão e deverá se recuperar em ritmo mais lento do que o mercado e o governo esperam, em torno de 3%. Pelas estimativas dele, o Produto Interno Bruto (PIB) não deverá crescer mais do que 2,5% no ano que vem.

 

“A retomada virá com a recuperação da capacidade de investimento do setor público e não vemos isso devido ao desarranjo das contas públicas. A incerteza está aumentando e o consumo acaba puxando o freio de mão e só não foi pior devido ao auxílio emergencial. O estado precisa encontrar uma maneira para financiar o motor que vai ajudar na retomada da atividade, pois, se ele investe, o setor privado vai junto. Sem o setor público, não vejo condições de o PIB registrar crescimento robusto”, explicou.

 

Dados do Ibre divulgados hoje também mostram que, na primeira semana de outubro, o IPC Semanal (IPC-S) avançou 1,18% nas seis capitais pesquisadas. O dado ficou acima das altas de 0,82%, registrada na semana anterior, e de 0,48%, na primeira semana de setembro.