ROSANA HESSEL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dado sinais de que quer repetir as mesmas medidas dos governos anteriores, mas ele precisa lembrar que nem todas deram certo como o Bolsa Família, que foi relançado logo no início do ano. Muitos foram desastrosos, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – que teve muitas obras paradas por falta de um bom projeto inicial e outras que nem saíram do papel, como o trem bala. Agora, por exemplo, ele pensa em ressuscitar os incentivos fiscais para os eletrodomésticos da linha branca.
Durante evento de recriação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, ontem, o presidente sugeriu “facilitar a compra de geladeira, televisão, máquina de lavar” pouco depois do fim antecipado da medida de redução de impostos sobre veículos, a fim de incentivar o consumo de carros parados nos pátios das montadoras. A medida teve orçamento apertado de R$ 500 milhões que acabou rapidamente e, depois foi ampliado para R$ 800 milhões, que foram esgotados na semana passada. Resta saber de onde virá o dinheiro para esse novo estímulo, mas o presidente deu pistas de que poderiam vir de fundos federais “que estão parados”, mas algo que nem a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, tinha ideia de como essa nova velha ideia seria financiada e até pediu “calma” aos jornalistas quando foi questionada. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda não foi procurado por Lula para discutir a possibilidade de criar benefícios tributários para a venda de eletrodomésticos da linha branca.
Mesmo que seja temporário, o novo incentivo fiscal é visto com ressalvas, pois o endividamento das famílias está elevado e ainda há risco de que, com a promessa de que os impostos sobre eletrodomésticos vão cair, o consumidor que estava pensando em trocar a geladeira e o fogão espere um pouco mais. “Fica bem claro que o governo está repetindo tudo o que foi feito nos últimos 13 anos de governo do PT, o que facilita projetar o que pode vir daqui para diante, mas sabemos que muitas medidas deram errado e esperamos que elas não se repitam”, afirmou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “O setor de eletrodomésticos registrou crescimento das vendas no primeiro semestre”, destacou.
“Apesar de alguns avanços em algumas áreas, estamos vendo o PT sendo o velho PT de sempre quando surgem essas ideias. Não resulta em crescimento, mas apenas em mais gasto fiscal. Antecipa demanda apenas e o resultado líquido é zero do ponto de vista de demanda e negativo do ponto de vista fiscal”, alertou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, ao comentar sobre o estímulo fiscal para a compra de eletrodomésticos da linha branca. É bom lembrar que, no governo Dilma Rousseff, gastos fiscais foram enormes, como no PAC e na desoneração da folha de pagamentos, mas eles não ajudaram no crescimento do país e fizeram a dívida pública explodir, levando o país para dois anos de recessão, em 2015 e 2016.
Na avaliação do analista da RB, é importante que o governo mostre que tem discutido antes de anunciar novas medidas. “Por mais que o presidente Lula esteja no seu terceiro mandato, ele tem pecado bastante na coordenação política e na coordenação das expectativas do mercado”, destacou Cruz. Para ele, seria melhor o governo centrar foco, primeiro, em programas de renegociação de dívidas das famílias, como o “Desenrola”, o programa que visa renegociar as dívidas de pessoas físicas com renda de até dois salários mínimos e que estejam devendo até R$ 5 mil, que ainda será lançado oficialmente. antes de estimular as famílias fazerem um “endividamento extra”.