ROSANA HESSEL
Após a confirmação de mais um reajuste nos preços da gasolina e do diesel anunciado pela Petrobras, nesta sexta-feira (17/06), e que passam a valer a partir de amanhã, combinada com as ameaças de autoridades de intervenção na estatal, as ações da petrolífera desabaram mais de 9% e a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) perdeu o patamar de 100 mil pontos.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PL-AL) criticarem duramente a estatal por cumprir o determinado no estatuto da empresa e na lei das estatais, que é corrigir o preço dos combustíveis acompanhando a cotação externa, conforme a política de paridade de preços internacionais (PPI) implementada desde 2016. Lira, inclusive, defendeu dobrar o imposto sobre o lucro da estatal. Já o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça cobrou explicações sobre alta dos combustíveis.
As ameaças de intervenção na companhia fizeram as ações da Petrobras liderarem a queda do Índice Bovespa, principal indicador da B3 no pregão de hoje. Por volta das 14h22, enquanto o IBovespa registava recuo de 3,69%, a 99.013 pontos, os papéis da estatal desabavam 8,77%, nas ações preferenciais (sem direito a voto, mas prioridade no recebimento de dividendos), e 9,30% nas ordinárias (com direito a voto).
Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, lembrou que esse reajuste de mais de 14% nos preços dos combustíveis devem pressionar ainda mais a inflação e minimizar qualquer efeito positivo de redução do preço dos combustíveis mesmo com o teto de 17% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aprovado pelo Congresso na semana passada. “Esse novo reajuste limita o impacto da redução dos impostos na inflação e como a guerra na Ucrânia está sem prazo para acabar, ainda poderá continuar pressionando os preços das commodities, e, com isso, alimentos e combustíveis continuarão ficando mais caros”, alertou.
Velho lembrou ainda que, nesse cenário medidas fiscais eleitoreiras de redução de tributos que não poderão ser prolongadas para 2023, a inflação continuará acima do teto da meta neste ano e no ano que vem, dificultando o trabalho do Banco Central, que continuará tendo que elevar a taxa básica da economia (Selic). Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom), elevou os juros básicos de 12,75% para 13,25% e, na avaliação do analista, é provável que o BC seja obrigado a, pelo menos, elevar a Selic para 14% ainda neste ano devido ao aumento das pressões inflacionárias, tanto no mercado interno quanto no externo.
“É provável que, com a continuidade da guerra na Ucrânia e com a produção de petróleo abaixo da demanda, o preço do barril poderá ultrapassar US$ 150, e, algumas estimativas já apontam o preço chagando a US$ 170. Se a Petrobras continuar sendo obrigada a elevar o preço dos combustíveis a fim de reduzir a defasagem dos preços internos, a inflação, em vez de desacelerar para um dígito, poderá encerrar o ano acima de 10%. Com esse cenário, o Banco Central continua com previsões muito otimistas e, provavelmente, precisará continuar elevando a Selic por um período indeterminado”, alertou.