AMARGO REGRESSO

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Não há perspectiva de recuperação da economia pelo menos até o fim do terceiro trimestre do ano. Nesse período, o país vai assistir a uma onda fortíssima de desemprego, regada a juros altos e inflação resistente. Na melhor das hipóteses, o Brasil começará a respirar depois das eleições municipais. Isso, é claro, se o governo não recorrer a invencionices na ânsia de garantir uns votos a mais para o PT na disputa por prefeituras.

 

O que se viu em 2015 será pouco perto do desastre anunciado para os próximos meses. O mercado de trabalho dará péssimas notícias às famílias. As demissões vão se disseminar, criando uma sensação de desconforto que baterá pesado no Palácio do Planalto. Será a maior das batalhas a ser enfrentada pela presidente Dilma Rousseff. O desemprego alto mexerá com os eleitores e levará os partidos da base aliada a ampliarem a pressão por mudanças na política econômica.

 

É por isso que os investidores estão descrentes em relação aos rumos da economia. Não veem qualquer espaço para o governo insistir em um ajuste fiscal mais consistente, que resulte de medidas aprovadas pelo Congresso. O discurso de Dilma de que aprovará uma série de reformas, em especial a da Previdência, será esvaziado rapidamente. Ficará quase impossível para o governo sustentar propostas que, na avaliação dos partidos da base, signifiquem perdas de direitos pelos trabalhadores.

 

Os analistas estão certos de que os riscos para a economia aumentaram muito. “Em vez de sinais de reversão, o que vemos é uma piora geral”, diz o economista Sílvio Campos Neto, da Tendências Consultoria. “O nosso entendimento é de que o estrago no mercado de trabalho pode se estender até 2017”, afirma. Com isso, acredita ele, os protestos das ruas vão se agigantar à medida que a deterioração da atividade se tornar mais clara.

 

Descrédito

 

O governo já dispõe de informações do quadro dramático que está sendo gestado. Foi por essa razão que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, se apressou em difundir a promessa de que está sendo preparado um pacote de medidas para, ao menos, estabilizar a economia. Ele nem fala mais em retomada do crescimento. A prioridade é segurar a locomotiva que está caminhando rapidamente para o precipício. Poucos, porém, acreditam no sucesso da empreitada.

 

Além de o governo não demonstrar compromisso real em colocar a economia nos trilhos, os políticos que dizem apoiar Dilma, e deveriam abraçar um projeto de responsabilidade fiscal, estão mais focados em trazer de volta o populismo que prevaleceu nos últimos anos. Acreditam que, em um ano eleitoral, o governo deve estimular a atividade a qualquer custo, mesmo que num prazo curto, mas suficiente para enganar os que vão depositar os votos nas urnas.

 

O ambiente está tão turvo, diz Campos Neto, que, nos três cenários traçados pela Tendências para 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) terá queda. No que a consultoria considera como cenário básico, com Dilma se livrando do impeachment e Barbosa fazendo um ajuste fiscal mínimo, a economia terá retração de 3%. A chance de essa hipótese se concretizar é de 45%. No cenário pessimista, com probabilidade de 35% de se tornar realidade, a presidente também se mantém no cargo, mas, sem força para aprovar medidas no Congresso, opta por medidas populistas — o PIB tomba 5,7%.

 

No quadro otimista, Dilma perde o mandato e o vice Michel Temer assume com força para fazer o ajuste fiscal e as reformas estruturais. O país encolhe, porém, 1,8%. A possibilidade disso ocorrer é de 25%. Se as projeções forem estendidas para 2017, o PIB sobe 0,1% no cenário básico, recua 2,4% no pessimista e cresce 1,4% no otimista. Esses números dão a dimensão do tamanho do estrago feito na economia nos últimos anos.

 

Ambiente hostil

 

Toda a piora do Brasil se dará em um contexto internacional bem mais hostil. Os Estados Unidos já não demonstram a força dos últimos meses, a Europa não consegue sair do atoleiro e a China, que sustentou um longo período de avanço dos países emergentes, principalmente os produtores de commodities, tenta salvar a própria pele. Dilma pode até encontrar nesse novo ambiente global uma desculpa para encobrir a incapacidade de resgatar o Brasil. Mas está explícito que todas as mazelas pelas quais estamos passando têm o DNA da petista.

 

Os temores de uma nova onda de desaceleração da economia mundial serão apresentados com todas as letras a Nelson Barbosa assim que ele desembarcar em Davos, na Suíça, onde representará o Brasil no Fórum Econômico Mundial. Sabe-se que o país terá pouquíssimo espaço no evento. Mas a presença do ministro poderá servir de aprendizado. A lição que ele mais ouvirá é a de que não há espaço para estripulias na política econômica. O Brasil foi colocado à margem pelos investidores justamente porque optou por aventuras que comprometeram o futuro de milhões de pessoas.

 

Brasília, 08h30min