ALÍVIO NO MERCADO, PRESSÃO POPULAR

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O Palácio do Planalto já identificou mudanças no humor dos agentes econômicos. A percepção entre assessores diretos da presidente Dilma Rousseff é a de que o temor de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pudesse pular do barco, por não ter o apoio necessário do governo para fazer o ajuste fiscal, começou a se dissipar.

O fato de a petista ter reforçado, nos últimos dias, o discurso em favor das medidas para arrumar as contas públicas e afastado qualquer divergência com o subordinado foi preponderante para que os investidores passassem a ver uma luz no fim do túnel. Até duas semanas atrás, em todos os cenários traçados pelo mercado, prevalecia a visão do caos.

Para executivos do sistema financeiro, é importante a mudança de percepção dos agentes econômicos. O prolongamento do pessimismo traria um pesado custo ao país, que já está mergulhado na recessão e ostenta inflação e juros em alta. Está claro para todos, porém, que as incertezas continuam latentes, sobretudo porque, mesmo com a presidente dando apoio explícito a Levy, há um Congresso hostil disposto a manter acesas as chamas da crise política.

“É visível que os agentes econômicos começam a se conscientizar de que não vale a pena botar fogo na floresta, pois todos terão de arcar com os custos. Por isso, podemos ver os primeiros sinais de trégua”, admite um diretor de um dos maiores bancos privados do país. “Até mesmo a oposição, por meio do senador José Serra (PSDB-SP), parece não apostar mais no quanto pior, melhor, o que é uma ótima notícia”, acrescenta.

Isso não quer dizer, porém, que Dilma terá paz. Mesmo que os investidores baixem a guarda, uma grande onda de pressão está se armando e deve vir com toda força para cima da presidente: o descontentamento popular. Técnicos do Ministério do Trabalho preveem que o tão temido desemprego dará as caras a partir de maio. E não será um movimento trivial, dada a fragilidade da atividade econômica.

Como lembra o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, nos últimos anos, os brasileiros, especialmente os mais jovens, acostumaram-se a trocar de empregos sem trauma. A oferta de vagas era tanta que a recolocação no mercado se dava de forma quase imediata. Agora, porém, as portas se fecharam. Quem está sendo demitido tem colecionado uma série de nãos ao buscar oportunidades. A insatisfação só não é maior porque muitos ainda estão recebendo o seguro-desemprego.

Perfeito acredita que a deterioração do mercado de trabalho será tão forte que o índice de desemprego deve bater em 10% no fim do ano, quase o dobro da taxa atual, de 5,9%. Quem continuar empregado sofrerá com a queda real dos salários, devido à disparada da inflação, que chegou aos 8% empurrada pelas tarifas públicas. “Tudo indica que será a população mais pobre a mais afetada com o ajuste da economia. É o remédio amargo para que, mais à frente, o país volte a crescer sem desarranjos”, frisa o economista da Gradual. Em meio ao pagamento da fatura criada por Dilma nos últimos quatro anos, a tendência é de a popularidade da presidente se manter no chão. E, pior, com as ruas cheias de protestos.

A caminho do fundo do poço

» Nos cálculos de André Perfeito, o Produto Interno Bruto (PIB) fechou o primeiro trimestre do ano com queda de 1% e encolherá ao menos 0,5% entre abril e junho. Será, então, o fundo do poço da economia. A partir daí, começará um lento e gradual processo de recuperação — desde, é claro, que o ajuste fiscal seja seguido à risca.

Catequizada por Levy

» Quem esteve com a presidente Dilma nos últimos dias garante que os 14 quilos que ela perdeu por meio de uma rígida dieta levaram junto boa parte das convicções econômicas que prevaleceram no primeiro mandato da petista. “A nova Dilma foi catequizada pelo Joaquim Levy. Os termos usados por ela são os mesmos que o ministro da Fazenda cita em seus discursos”, diz um ministro.

Tombini critica Afif

» O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não gostou nada das declarações do ministro da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, de que a instituição liberará R$ 41 bilhões em depósitos compulsórios para financiar as firmas de menor porte. Na visão de Tombini, a injeção dessa montanha de dinheiro na economia neste momento é inflação na veia.

Fiscalização mais frágil

» O clima entre os fiscais do Banco Central é de desânimo. Sem dinheiro para tocar o Plano Anual de Fiscalização, a autoridade monetária não conseguiu realizar nenhuma grande missão neste ano, apesar do envolvimento claro de vários bancos no esquema de lavagem de dinheiro da corrupção da Petrobras. Os servidores do BC se recusam a bancar as despesas com recursos próprios.

1º de abril, dia da Dilma

» As redes sociais transformaram o 1º de abril, dia da mentira, em dia da Dilma. Tudo por causa das inverdades que a presidente disse durante a campanha à reeleição.

Brasília, 10h10min

Vicente Nunes