RODOLFO COSTA
O Aliança pelo Brasil ainda não está formalmente criado, mas começa, aos poucos, a ganhar corpo e musculatura política. No Ceará, oito deputados estaduais sinalizam a intenção em migrar para a futura legenda. Em Goiás, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), mantém diálogo próximo com aliados que assumirão Presidências de diretórios municipais quando o partido estiver homologado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ainda assim, os principais líderes da sigla em gestação pregam cautela, a exemplo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O parlamentar conversou brevemente com o Blog e garante que o momento é de sobriedade, não de euforia em relação ao futuro da legenda. Dessa forma, ele tem buscado frear o ímpeto dos mais empolgados com as eleições municipais, em 2020, deixando claro que todo e qualquer nome está sendo analisado caso a caso. “Muita gente anda tentando puxar (o partido) para si, principalmente diretórios municipais, dizendo ‘ah, eu já sou do Aliança, já comecei”, mas não é nada assim, não. Está tudo em aberto”, avisou.
Os detalhamentos do Aliança serão divulgados nesta quinta-feira (21/11), quando devem ser apresentados o estatuto e o programa partidário, segundo avisou na terça (19) a advogada Karina Kufa. Por esse motivo, Eduardo evitou se aprofundar nas estratégias e prioridades da futura legenda para 2020. “Primeiro o partido tem que existir, né. Tem que ter a coleta de assinaturas, vai ter a convenção nacional na quinta. Então, um passo de cada vez. Mas daqui a pouco a gente começa com a coleta de assinaturas”, explicou.
Como deputado federal mais votado da história do país, pelo eleitorado paulista, Eduardo garante que, pessoalmente, não está pensando na montagem partidária do Aliança em São Paulo, com a composição dos diretórios municipais e estaduais de olho nas eleições de 2020 e 2022. “Eu tenho uma outra filosofia. Minha filosofia é fora do partido. Quatro anos do mandato e a gente está em eleição, vamos assim dizer. E o que elege deputado não é ser presidente de um diretório municipal ou estadual. O que elege é a satisfação do povo, confiança, e isso pode ser trabalhado nos quatro anos, independentemente do cargo que vou ocupar dentro do partido”, destacou.
Alinhamentos
O argumento de Eduardo é respaldado por Bolsonaro, diz o deputado estadual André Fernandes (PSL-CE). O parlamentar foi recebido na manhã desta quarta pelo presidente da República e, no encontro, a pauta de estrutura partidária do Aliança no Ceará não foi debatida. “Hoje, na conversa que tivemos, não tinha isso de já estar alinhando os escritórios”, explicou, ao Blog. O comando do PSL no estado continuará nas mãos do deputado federal Heitor Freire, mas Fernandes acredita ser uma questão de tempo do partido sentir o impacto da criação do Aliança.
No encontro com Bolsonaro, ele levou ao presidente uma carta com a assinatura de oito dos nove deputados do PSL que expressa apoio “independente ao partido em que esteja”. A decisão dos parlamentares, por sinal, iniciou um processo de desfiliação do PSL para a migração ao Aliança. “O estado (do Ceará) ainda tá na mão do PSL, mas vamos mudar isso aí. O pessoal, e não sei por que, mas já está se desfiliando, e não pedi para ninguém se desfiliar”, afirmou Fernandes.
Embora tenha evitado entrar nas minúcias eleitorais do Aliança no Ceará e no Nordeste, Bolsonaro externou a Fernandes o desejo em estruturar a futura legenda com pessoas de confiança. “Tem que ser escolhido uma liderança forte por estado que seja da confiança do presidente”, afirmou Fernandes. A ideia de Bolsonaro, conforme o Blog antecipou, é priorizar “qualidade”, não “quantidade”. Ou seja, a principal preocupação do presidente é compor o Aliança com pessoas de sua mais alta confiança.
A jornalistas, Fernandes disse que há uma “grande chance”, “99,9% de chances” de Bolsonaro ser declarado o presidente nacional da futura legenda. O objetivo é que ele possa centralizar as principais decisões partidárias, amparado por conselheiros da Executiva Nacional. Mas ele sabe que, para dar prosseguimento das diretrizes nacionais aos municípios, como no próprio processo da coleta de assinaturas, precisará de pessoas da mais alta confiança nos estados para executar as demandas nos municípios.