Agravamento da crise econômica e política pode abalar sistema bancário

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O Banco Central garante que está tudo bem, que o sistema financeiro está sólido o suficiente para atravessar as graves crises econômica, política, ética e institucional sem se machucar, mas há gente no governo temendo que alguns bancos possam enfrentar problemas caso as empresas não consigam refinanciar dívidas que chegam a R$ 500 bilhões. Na avaliação da equipe econômica, nada poderia ser pior para o país neste momento do que uma instituição bancária quebrar.

O monitoramento do sistema financeiro feito em tempo real pelo BC mostra que há sobra de recursos, especialmente nos grandes bancos, que se prepararam para as turbulências que não dão trégua. A preocupação, porém, é com algumas pequenas instituições, que vêm sofrendo para captar recursos no mercado — são obrigadas a pagar juros estratosférico — e estão vendo o calote disparar. Muitas empresas acreditavam que teriam um fim de ano melhor para reforçar o caixa. Mas a situação da economia piorou e o dinheiro sumiu, a ponto de faltar recursos até para o pagamento da folha de salários.

O asfixiamento é tão forte, que o número de falências e de empresas pedindo reestruturação patrimonial vem batendo recorde. Se não vier nenhuma sinalização mais clara por parte do governo de medidas que possam destravar o crédito e reanimar a atividade, o quadro ficará dramático, com a blindagem do sistema financeiro começando a romper. Não se trata de falar de um risco sistêmico, do qual realmente estamos muito longe. Mas confiança é tudo em relação aos bancos. É preciso, portanto, que ela se mantenha intacta. Qualquer descuido será fatal.

Caixa vazio

Para Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a possibilidade de se chegar a uma crise bancária existe, é pequena, mas é real. Ele ressalta que a escassez de crédito está pegando todos, e seus efeitos, se disseminando. “Até pouco tempo atrás, as grandes companhias conseguiam reforçar o caixa captando recursos no exterior. Com isso, conseguiam financiar seus fornecedores, principalmente pequenas e médias empresas. Agora, sem essa fonte de financiamento, já que as linhas externas também diminuíram, o sistema lincando essa cadeia desapareceu. Por isso, tanta necessidade de reestruturação de dívidas”, destaca.

Cagnin ressalta ainda que, além da restrição do crédito, as empresas vêm sendo afetadas pela forte volatilidade do dólar, que dificulta a recuperação da produção por meio das exportações. A instabilidade do câmbio também desestimula investidores estrangeiros que gostariam de participar do programa de concessões e privatização que será colocado em prática pelo governo. Certamente, só se sentirão motivados a entrar nesse barco se houver um fundo que os proteja do sobe e desce da moeda norte-americana.

Na opinião de Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), não há, hoje, nenhum sinal de recuperação da economia. Muito pelo contrário. As perspectivas são cada vez piores. Nos cálculos dela, na melhor das hipóteses, a produção industrial crescerá 0,3% em 2017, mas há sérios indícios de que o setor poderá registrar o quarto ano seguido de retração. Parte importante do setor produtivo morreu e, mesmo em um contexto de recuperação, o tamanho da indústria certamente será menor do que quando começou a encolher.

Brasília, 06h50min

Vicente Nunes