AGORA, O BC QUER SER A FAZENDA

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Apesar de todo o arrocho anunciado nesta semana pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e dos indicadores ruins da economia, a começar pelo aumento do desemprego, o Banco Central será obrigado a elevar a taxa básica de juros (Selic) na próxima quarta-feira. E não será pouca coisa: 0,5 ponto percentual, de 12,25% para 12,75% ano, movimento que vai na direção contrária de todo o mundo.

A Selic vai subir porque a inflação está alta demais, caminhando para 8% no acumulado de 12 meses. Parte importante dessa carestia foi causada pelo governo, que represou os preços administrados, acreditando que poderia arcar com a conta. Quando viu o tamanho da fatura e o estrago que ela estava fazendo nas contas públicas, Levy decidiu transferi-la para o distinto público.

Também o Banco Central tem a sua parcela de culpa. Nos últimos quatro anos, a instituição se rendeu aos apelos da presidente Dilma Rousseff. Em vez de combater com rigor os reajustes, o BC preferiu entregar à chefe do Executivo um troféu político, o de levar a Selic para o menor patamar da história, de 7,25% ao ano, taxa que não se sustentou por mais de seis meses.

Em nenhum momento do primeiro mandato de Dilma, a inflação ficou no centro da meta, de 4,5%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourou o limite de tolerância, de 6,5%, por 15 vezes. O BC jamais acertou as previsões. Diante do fracasso, sobrou para o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, adiar, constantemente, a promessa de cumprir a missão que lhe foi dada.

Além da alta dos juros na quarta-feira que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá que promover pelo menos mais um aumento em abril, para 13%. Só então terá condições de encerrar o forte aperto monetário. O grande objetivo do BC é recuperar a credibilidade perdida. E isso passa por dar um choque de juros na economia, mesmo com a recessão e o desemprego mostrando as garras.

Dentro do governo, a expectativa é de que, até o fim do ano, o BC faça o caminho inverso e derrube a Selic. No entender de auxiliares de Dilma, isso será possível por causa do ajuste fiscal que está sendo tocado por Levy. As medidas anunciadas até agora e o que ainda está por vir serão capazes de retirar pressão da inflação e fazer com que as expectativas para 2016 caminhem para bem próximo de 4,5%.

A determinação do BC, agora, é demonstrar autonomia. Quer seguir o modelo da Fazenda de Levy. Muitos não acreditavam que o ministro tivesse força suficiente para promover o arrocho fiscal e corrigir todos os erros cometidos nos últimos quatro anos. Mas o que se tem visto até agora mostra que a presidente da República está bancando o ajuste, a ponto, inclusive, de enterrar um programa que ela lançou com todas as pompas, o Minha Casa Melhor.

Do Palácio para o Congresso

Analistas de mercado dizem que as dúvidas em relação ao poder de Joaquim Levy para tocar o ajuste fiscal se deslocaram do Palácio do Planalto para o Congresso. Ao avalizar medidas tão impopulares, que desagradaram a trabalhadores e empresários, a presidente Dilma indicou que está disposta a corrigir os erros de seu primeiro mandato. A dúvida, agora, é se o ministro da Fazenda conseguirá dobrar os partidos da base aliada, sobretudo o PT, e aprovar cortes de benefícios sociais e de aumento de impostos. Ontem, até o PMDB, que vinha dando demonstrações de que havia tutelado o chefe da equipe econômica, elevou o tom ante a alta de tributos ao setor produtivo para a contratação de funcionários.

Fundos pendurados na Lava-Jato

» Dados do governo mostram que 94 dos 317 fundos de pensão do país têm recursos aplicados em títulos das empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato. As aplicações somam R$ 1 bilhão, volume considerado pequeno diante do total de ativos das fundações, de R$ 711 bilhões.

Sinal de alerta

» Na avaliação do governo, como não há risco de todas as construtoras que participaram do processo de corrupção da Petrobras fecharem as portas, por enquanto, não há por que os fundos de pensão entrarem em pânico. Mas, pelo sim, pelo não, é bom manter ligado o sinal de alerta.

Levy dá sova em Mantega

» Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, tem vivido dias difíceis. Não bastasse o constrangimento que passou em um hospital de São Paulo, onde foi agredido verbalmente, está tomando uma sova de seu sucessor, Joaquim Levy, que faz questão de tripudiar a política econômica que vigorou nos últimos quatro anos.

Preço de Barbosa

» O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, desembarca, na próxima sexta-feira, na Câmara de Comércio França-Brasil para uma palestra. Os sócios da entidade terão de desembolsar R$ 150, mais R$ 40 pelo estacionamento,para assisti-lo. A conta para os não sócios sairá por R$ 240,o pacote completo. 

Brasília, 00h01min

Vicente Nunes