“Esses números podem mudar durante o ano, porque há uma expectativa de queda dos preços do petróleo e das commodities devido a vários fatores, mas, no caso da soja, a queda deverá ser pequena porque há muita antecipação de embarques para as exportações da próxima safra”, explicou José Augusto de Castro, presidente da AEB, em entrevista ao Blog.
“Um dos fatores que pode afetar os preços das commodities e os embarques nacionais é o embargo chinês da carne brasileira e também a perspectiva de sobretaxa da União Europeia a produtos nacionais. “Existe essa ameaça, mas ainda não sabemos qual será o impacto”, alertou Castro.
Essa é a segunda redução no ano do saldo da balança comercial feita pela AEB. No fim do ano passado, a previsão para o superavit na balança comercial de 2021 era de US$ 69, bilhões e, em julho, passou para US$ 68 bilhões. De acordo com a nova, as exportações devem somar US$ 275,3 bilhões neste ano e as importações, US$ 218,1 bilhões. E, para 2022, expectativa é de queda de 4,7% nos embarques e de avanço de 4,5% nos desembarques, para US$ 262,4 bilhões e US$ 227,8 bilhões.
Castro lembrou que, no Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que encolheu 0,1%, o setor externo contribuiu negativamente para que o resultado confirmasse a recessão técnica — quando há dois trimestres consecutivos de queda do PIB. “O mesmo pode acontecer no quarto trimestre, porque os preços do minério de ferro caíram e não há mais embarques de soja neste ano, e, portanto, devemos ver queda nas exportações”, afirmou.
Na avaliação do presidente da AEB, boa parte do superavit comercial da balança deste ano é preço e não quantidade. “Os preços das commodities subiram muito e isso ajudou a formar um saldo positivo da balança, mas, o país não tem conseguido aumentar o volume das exportações. Antes, o Brasil estava exportando mais preço do que quantidade e, muitas vezes, sem muitos fundamentos. Agora, com a queda dos preços do minério de ferro devido à desaceleração da China. Sabemos que o preço do petróleo vai cair, mas ainda não dá para prever até quando e nem quanto. Temos muitos motivos para crer que as exportações podem cair mais do que esses 4,5% que estamos prevendo”, disse.
Pelas estimativas de Castro, a taxa de câmbio em 2022 deverá ter o dólar variando entre R$ 5,30 e R$ 5,80. A entidade alerta que a aprovação das reformas estruturantes, como a tributária, é “condição básica” para reduzir o impacto do Custo Brasil, que consome R$ 1,5 trilhão do PIB por ano, e aumentar a competitividade do país. “A ausência de aprovação dessas reformas é responsável pelas exportações de produtos manufaturados representarem apenas 26% da exportação nacional, quando, no ano 2000, respondiam por 59%, significando a perda de milhares de emprego”, destacou o executivo.