Assessores muito próximos da presidente Dilma Rousseff vibraram com os resultados da inflação de abril, de 0,71%. A despeito de, no acumulado de 12 meses, o custo de vida ter atingido 8,17%, o maior nível em 11 anos, o discurso foi o de que o pior da carestia está ficando para trás. A tendência, dizem, é de que, mês a mês, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vá cedendo, consolidando a visão disseminada pelo Banco Central de que, ao fim de 2016, pela primeira vez, desde que Dilma tomou posse, em 2011, o custo de vida ficará no centro da meta, de 4,5%.
Dentro do governo, a visão positiva sobre a inflação vem acompanhada da perspectiva de retomada do crescimento econômico. Assessores de Dilma recorrem a todo tipo de argumento para assegurar que o país sairá mais rápido do atoleiro do que o mercado financeiro acredita. Ressaltam que o alívio na carestia fará com que as famílias voltem a consumir. Destacam que a perspectiva de inflação na meta levará os empresários a desengavetarem investimentos. Enfatizam que a combinação de inflação menor com a aprovação do ajuste fiscal no Congresso reverterá a paralisia que está travando os negócios.
Não há dúvidas de que o discurso do governo é bonito. Mas, diante do estrago que Dilma fez na economia e da fragilidade política que ela enfrenta, a ponto de temer sair às ruas para não ser vaiada, falar em recuperação econômica neste momento é, no mínimo, precipitado. Antes de melhorar, a economia vai piorar muito, com disparada do desemprego, aumento do calote e desconfiança generalizada dos consumidores. Não será a desaceleração da inflação que fará o filme de terror que estamos assistindo se transformar em uma obra recheada de boas notícias.
Tudo no Brasil continua muito errado. Não há um plano claro de governo. O que se está fazendo em termos de ajuste fiscal são paliativos. Como bem ressaltou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a arrumação das contas públicas levará pelo menos cinco anos. Com isso, a capacidade de investimentos da União estará limitada. Sozinho, o setor privado, que sofre com a recessão, não será capaz de tocar as obras que poderiam dar novo dinamismo à atividade. Muitos empresários dizem que o momento não é de ampliar a produção, mas de enxugar custos para sobrevivência.
A indústria sofre com a falta de competitividade. O real continua valorizado, reduzindo a força das exportações. O custo unitário do salário também se mantém elevado. A produtividade está no chão. Os juros, capitaneados pelo Banco Central, nas alturas. Tudo está jogando contra a recuperação do Produto Interno Bruto (PIB). O consolo é que, não fosse o ajuste fiscal que Levy está tentando tocar, a economia brasileira teria neste ano encolhimento de ao menos 4%. O tombo deve ficar entre 1% e 1,5%. Em 2016, quando o governo vislumbra tempos melhores, o avanço da atividade tende a se situar entre zero e 0,5%. Ou seja, na soma dos dois anos, o saldo ainda será bastante negativo.
Em termos de contração econômica, a situação vivida pelo Brasil hoje é semelhante à que se viu nos Estados Unidos entre 2008 e 2009, logo depois do estouro da bolha imobiliária. A grande diferença é que os norte-americanos puderam dar estímulos à atividade. Com a inflação baixa, o Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, jogou as taxas de juros para próximo de zero. Além disso, injetou trilhões de dólares na economia a fim de estimular o consumo.
O Brasil está de mãos atadas. A inflação se mantém, persistentemente, acima de 8%, obrigando o Comitê de Política Monetária (Copom) a pesar a mão sobre a taxa básica (Selic), a ponto de os analistas já falarem em juros de 14% ao ano — estão em 13,25%. O caixa do Tesouro Nacional está destruído. Não há confiança na presidente Dilma. Por mais que ela tenha terceirizado a administração — na política, o comando está com o vice-presidente Michel Temer; na economia, com Levy —, os agentes econômicos temem retrocessos.
Pode ser que o BC de Alexandre Tombini finalmente cumpra a promessa de levar a inflação para o centro da meta ao fim do ano que vem. Será motivo de regozijo pela população, sobretudo a mais pobre, que já enfrenta dificuldades para levar comida à mesa. Mas dizer que o sucesso da autoridade monetária é o passaporte para um futuro promissor requer muita boa vontade. Nem mesmo no país de ficção que o PT apresenta em seus programas eleitorais isso seria possível.
Varejo no vermelho
» Para se ter ideia de como a recuperação da economia está distante, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará, na próxima quinta-feira, o resultado do varejo. A projeção do Banco Santander é de queda de 0,5% em março e de 1% no primeiro trimestre.
Atividade retraída
» Na sexta-feira, será a vez de o Banco Central ratificar o péssimo desempenho da atividade. Se os economistas estiverem corretos, o IBC-Br, índice que funciona como uma prévia do PIB, deverá apontar contração próxima de 0,4% em março e de 0,5% nos primeiros três meses do ano.
Desconectados do mundo
» Funcionários do BC estão indignados com os cortes de gastos promovidos pela instituição para se adequar ao ajuste fiscal. Impressões, só com código de autorização. A internet funciona apenas durante 20 minutos, em dois períodos do dia. Para os técnicos, se o limite de impressões traz certa racionalidade, a restrição ao uso da internet atrapalha muito, pois os deixa isolados do mundo na maior parte do dia.
Brasília, 00h01min