“Os mercados continuam com o sentimento negativo após as novas novas projeções do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos)”, explicou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, citando a sinalização do Fomc, comitê de política monetária do Fed, que, após revisar de 2,4% para 3,4% a previsão de inflação nos EUA, sinalizou aumento dos juros em 2023 e informou que vai começar a discutir a revisão do tapering, o enxugando a liquidez do mercado, reduzindo o volume de compras de ativos. “A ideia dos juros subindo em 2023 é um concorrente para as bolsas a curto prazo. Por enquanto estão assumindo que a inflação é transitória, mas se ela não diminuir no fim de 2021, o mercado vai precificar alta de juros até o final de 2022”, acrescentou.
Enquanto as bolsas da Europa e dos Estados Unidos apresentavam quedas de até 2,2% na manhã desta sexta-feira (18/06), o IBovespa oscilava em patamares negativos e positivos pela manhã, chegando a cair 0,31% por volta das 11h, mas tenta ficar acima dos 128 mil pontos, com leve alta de 0,11% perto do meio dia. Enquanto isso, o dólar registrava queda nesta manhã e chegou a renovar o piso, de R$ 4,98, mas voltou a subir após às 11h, sendo negociado a R$ 5,03 para a venda.
MP da Eletrobras
Apesar das críticas de especialistas e entidades do setor ao relatório da Medida Provisória 1031/2021, que trata da privatização da Eletrobras, aprovado, ontem, pelo Senado Federal, as ações ordinárias (com direito a voto) da Eletrobras negociadas no Novo Mercado apresentaram alta entre 8% e 9% logo no início de pregão, liderando as altas da B3. Contudo, pouco mais de uma hora de negociações, a taxa de valorização tinha perdido um pouco da intensidade variando entre 5% e 7%.
A rejeição de destaques como o da retirada de garantias da União, mesmo após a privatização, foi um dos fatores que agradaram os especuladores, que ignoram os jabutis — emendas não relacionadas ao assunto principal da proposta — plantados na MP para aprovar a matéria mas que beneficiam os currais eleitorais dos parlamentares governistas e que, segundo especialistas, devem , aumentar os custos da energia para os consumidores.
Para a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, o relatório aprovado pelos senadores acabou transformando a privatização da Eletrobras em uma proposta medíocre. “Os especialistas do setor elétrico apontam problemas no texto e um expressivo aumento de custos muito alto para os consumidores no fim das contas por conta dos jabutis”, alertou.
Alessandra Ribeiro demonstrou preocupação com o fato de as propostas do Executivo estarem sendo muito desidratadas pelo Congresso. Segundo ela, isso é um risco enorme, especialmente, para as reformas mais importantes, como a tributária e a administrativa, que podem ser prejudicadas devido ao enfraquecimento do governo. “O cenário não é positivo e caminhamos para ter medidas aprovadas com efeitos marginais e que não vão ajudar na retomada da economia”, alertou.
A economista e advogada Elena Landau, ex-diretora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), também lamentou o texto da MP da Eletrobras aprovado pelos senadores e devolvido para a Câmara dos Deputados, que já tinha aprovado um relatório ruim. Para ela, há vários itens que permitem a judicialização da medida que poderá caducar se não for aprovada até a próxima terça-feira (22). De acordo com a especialista, que vinha criticando o modelo escolhido pelo atual governo e também o projeto de lei proposto na gestão do ex-presidente Michel Temer, a MP da Eletrobras prejudica o setor ao criar reservas de mercado. “Essa medida permite um retrocesso para o setor elétrico de 20 anos”, afirmou.