“Acho que não vão com a minha cara”, diz Temer sobre rejeição recorde

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Em recente entrevista ao Correio, o presidente Michel Temer deixou claro seu inconformismo com a rejeição a ele e ao governo. Disse que a população não estava compreendendo os avanços conquistados por sua gestão, sobretudo por meio do controle da inflação (a mais baixa em duas décadas) e da queda das taxas de juros (no menor nível da história).

“Acho que não vão com a minha cara”, respondeu Temer, ao ser questionado sobre sua baixa popularidade. No dia da entrevista, a taxa de rejeição do presidente era de 70%. Agora, segundo o Datafolha, atingiu 82%, a maior da história. Apenas 3% da população aprovam o emedebista.

Temer listou uma série de conquistas para justificar a sua incompreensão: a lei que criou um teto de gastos para a União, a reforma trabalhista, a reforma do ensino médio, a lei das estatais, a queda da inflação, o recuo dos juros, a criação da maior reserva marinha do mundo, o aumento da área protegida da Chapada dos Veadeiros.

“É curioso que tudo isso não seja percebido”, afirmou, ressaltando outros avanços. “Liberamos R$ 44 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), liberamos recursos do PIS-Pasep, demos reajustes para o Bolsa Família acima da inflação, liberamos recursos para a compra de ambulâncias e verbas para os municípios. Repactuamos ainda dívidas de estados e municípios.”.

Para o presidente, tudo isso foi feito num curto espaço de tempo. Mas nada foi suficiente para melhorar sua popularidade. Ele garantiu, porém, que continuará na sua empreitada de “preparar o Brasil para o futuro”. E ressaltou que tem “muito do que se orgulhar do Brasil”.

Dentro do governo, a visão é de que a forte rejeição a Temer decorre da perda da guerra da comunicação. Além de o Palácio do Planalto não ter conseguido capitalizar os avanços, foi abatido, no meio do caminho, por denúncias contra Temer e seus ministros mais próximos. O presidente teve que enfrentar duas denúncias à Câmara. Viu a reforma da Previdência ser enterrada pelas delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS, e foi literalmente atropelado pela greve dos caminhoneiros.

Todas as crises foram enfraquecendo a base aliada do governo no Congresso, que não conseguiu aprovar mais nada do interesse do país. A paralisação dos transportadores de cargos expôs um governo desarticulado, dividido e sem força para impor suas posições. Para a população, não há como apoiar um governo tão fraco.

Brasília, 16h01min

Vicente Nunes