Com o governo enfraquecido politicamente, todos querem avançar sobre os cofres públicos. E os servidores não fizeram por menos ao pressionar o Congresso para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que transforma os reajustes de salários em uma farra — algumas carreiras mais que dobrarão o valor dos contracheques se os parlamentares endossarem a ganância.
O que mais assusta é que os abusos estão sendo defendidos por grupos articulados da elite do funcionalismo, gente que deveria estar dando exemplo diante das dificuldades que o país está passando. Enquanto a grande maioria dos trabalhadores está com os empregos ameaçados por causa da grave crise, os servidores beneficiados pela PEC 433, que vincula seus rendimentos aos ganhos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), se garantem na estabilidade.
Numa hipótese remotíssima, seria até aceitável pensar em reajustes de mais de 100% para os servidores — advogados da União, analistas do Banco Central, delegados da Polícia Federal, auditores da Receita Federal, fiscais agropecuários — se eles prestassem um serviço decente à população. Mas não é o caso. A qualidade é péssima. Nada funciona. E a máquina está infiltrada pela corrupção.
Se estivessem na iniciativa privada, submetidos à meritocracia, muitos desses servidores que tendem a se beneficiar da PEC 443 estariam demitidos e engrossando a fila de desempregados que eles podem ajudar a aumentar caso insistam em reajustes abusivos de salários. As contas públicas não suportam mais exageros. O Estado já é grande demais e suga, por ano, quase 40% das riquezas produzidas pelo país. Bom senso é bom e todo mundo gosta.
Brasília, 11h46min