Abraham Weintraub não deverá esquentar a cadeira no Banco Mundial

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ROSANA HESSEL

Apesar de ter sido confirmado oficialmente como diretor executivo do Conselho do Banco Mundial (Bird), o ex-ministro da Educação, o economista Abraham Weintraub, mal conseguirá esquentar a cadeira no cargo, segundo fontes próximas à instituição. Resta muito pouco tempo para o mandato dele expirar, em 31 de outubro. E, além disso, o Bird entrará em recesso em agosto e, portanto, o ex-ministro deverá começar a trabalhar de verdade em setembro.

A expectativa é que Weintraub tome posse na próxima semana. Procurada, a assessoria da instituição sediada em Washington confirmou que o órgão entrará em recesso no mês que vem. Contudo, o período de vacância ocorrerá entre os dias 10 e 21 de julho.

Conforme dados do calendário do Conselho do Bird, apesar de haver reuniões na primeira semana de agosto, a única em que o Brasil deve apresentar um projeto que será objeto da pauta está prevista para o dia 27. Os membros do Conselho participam de todas a reuniões, de acordo com a assessoria do órgão. Após o fim do recesso, estão previstas cinco reuniões entre os dias 25 e 31 de agosto.

Eleição

Na noite de ontem (30/07), o Banco Mundial confirmou o fim do processo eleitoral para a aprovação do nome de Weintraub pelo grupo de países, conhecido como “constituency”, que é presentando Brasil, Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas, Suriname e Trinidad e Tobago.

Ao ser questionado se o resultado da eleição foi unânime, o Bird não comentou o assunto. “Para preservar a integridade do voto, os registros de voto para eleições dos grupos de países (constituency) não são abertos”, informou a assessoria da instituição.

De acordo com informações do Banco Mundial, a diretoria executiva do Conselho não faz parte do corpo de funcionários contratados pela instituição. E, para permanecer no cargo, o nome de Weintraub precisará passar novamente pelo processo de eleição que, normalmente, dura umas quatro semanas.

A remuneração anual para os diretores executivos do Conselho é de US$ 258,57 mil, o que, pelo câmbio atual de R$ 5,20, equivale a um salário de R$ 1,344 milhão por ano.

Poder de voto

O Brasil lidera esse grupo de 10 países porque possui 54,3% da participação do poder de voto. Logo, não teve dificuldade em aprovar o nome de Weintraub. Contudo, a praxe sempre foi fazer uma nomeação depois que exista um consenso entre todos os integrantes do grupo, afim de não haver constrangimento ao indicado.

Conselho do Banco Mundial possui 25 diretorias executivas. Estados Unidos, Japão, China e Alemanha possuem cadeiras individuais por serem os maiores cotistas do banco. França e Reino Unido compartilham um assento e os demais são divididos em vários grupos.  No caso da diretoria executiva do grupo brasileiro, o assento estava vago desde o fim do ano passado. O poder de voto desses 10 países é de 3,66%. China, sozinha, tem 4,72%.

Quando Weintraub foi escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para a diretoria executiva do Conselho do Bird, no entanto, funcionários da instituição protestaram contra a indicação e enviaram cartas aos nove países-membros do grupo liderado pelo Brasil para tentarem barrar a eleição. Essa mobilização mostra bem que o economista, que tem visões polêmicas e antiglobalistas, não será muito bem-vindo no Bird, que zela, tradicionalmente, pelo multilateralismo e pela diplomacia.

Até a ida de Weintraub para os Estados Unidos teve um contexto polêmico. Ele  viajou em 18 de junho para assumir o cargo do Banco Mundial e teve a entrada nos EUA facilitada pelo Ministério das Relações Exteriores, conforme informações divulgadas pelo UOL com base em um pedido feito pela Lei de Acesso à Informação (LAI).

Vicente Nunes