O Palácio do Planalto está se dizendo “chocado” com a pesquisa Datafolha que mostrou forte tombo na popularidade da presidente Dilma Rousseff. O impacto dos números — apenas 23% da população consideram o atual governo bom ou ótimo, contra 42% de dezembro — levou a chefe do Executivo a fazer ontem uma reunião de emergência com seus conselheiros para definir uma estratégia de reação. É possível que a petista faça um pronunciamento em cadeia de rádio e tevê logo depois do carnaval.
O governo não deveria, porém, mostrar tanta surpresa diante da mais rápida e profunda deterioração política desde a administração Collor de Mello. Basta ver a situação em que o país se encontra para perceber que a resposta dos eleitores é a mais natural possível. Os quatro anos do primeiro mandato de Dilma foram desastrosos, acumulando uma herança maldita que custará caro ao Brasil. Com exceção do mercado de trabalho, cujos dados são influenciados pelo grande número de pessoas que deixaram de procurar emprego, todos os demais indicadores da economia mostram um país de joelhos.
A perspectiva é de que o Produto Interno Bruto (PIB) encerre 2015 com queda entre 0,5% e 2% — nas últimas duas décadas, em apenas duas ocasiões, a economia registrou retração, em 1992, ano da derrocada do governo Collor, e em 2009, quando o país foi solapado pela crise mundial. A inflação está no maior nível desde 2003, o primeiro ano de mandato de Lula. Todas as projeções mostram que o custo de vida ficará entre 7% e 8% em 2015, muito acima do teto da meta, de 6,5%.
A presidente que foi apresentada ao país como excelente gerente na campanha de 2010 — uma propaganda enganosa — conseguiu a proeza de acumular, no ano passado, rombos nas contas públicas e nas contas externas que chegam, juntos, a 11% do PIB. O país, que construiu importante reputação no mercado internacional, recebendo a chancela de grau de investimento das três principais agências de classificação de risco, está a um passo de ser rebaixado para nível especulativo. Os empresários se assustaram tanto com as maluquices de Dilma na economia, que suspenderam os investimentos, ajudando a empurrar a atividade produtiva para o buraco.
Tudo isso já seria motivo de sobra para 44% da população rejeitar o governo Dilma. Mas os eleitores foram apresentados a um processo sem precedentes de corrupção na Petrobras, a maior empresa do país, um símbolo nacional. Estima-se que o superfaturamento de obras tenha comido R$ 88,6 bilhões do patrimônio da empresa. O esquema para sugar o caixa da petroleira foi criado para bancar o projeto de poder do PT, aliciando partidos da base aliada, conforme foi revelado pela Operação Lava-Jato.
Nada do que espanta os eleitores que agora rejeitam o governo é novidade. Todos os fatos — a má administração da economia, os desmandos e a corrupção — foram apresentados claramente durante a disputa eleitoral de outubro passado, da qual Dilma saiu reeleita. A maioria dos votantes, no entanto, deixou-se inebriar pela bela campanha conduzida pelo marqueteiro João Santana. Ele criou um Brasil da fantasia e não se intimidou, com o aval da presidente, em mentir para destruir os concorrentes.
Agora, com a realidade se impondo, a inflação corroendo a renda, o desemprego batendo à porta e as denúncias diárias de que a Petrobras foi tomada por uma facção criminosa, seis em cada 10 entrevistados pelo Datafolha dizem que Dilma mentiu durante a campanha eleitoral. Para 77% dos entrevistados, a presidente sabia da corrupção que sangrou a Petrobras. Diante desse quadro de total desconfiança, todos se perguntam: o que a petista dirá no pronunciamento de rádio e tevê? Continuará mentido sem constrangimento? Dirá que tudo o que está acontecendo no país é culpa dos pessimistas? Se for para dizer tantas bobagens, é melhor continuar no silêncio em que se encontra.
BTG Pactual na ordem do dia
» Técnicos do governo andam se referindo com frequência ao Banco BTG Pactual, devido às fortes relações da instituição com a empresa Sete Brasil, citada na Operação Lava-Jato como pagadora de propina. A instituição financeira presidida por André Esteves sempre teve fortes relações com os governos petistas.
Upgrade com Hamilton
» Gente séria do mercado financeiro garante que Carlos Hamilton, que deixou a diretoria de Política Econômica do Banco Central, pode ir para a Brasil Plural, gestora de recursos que tem como um dos sócios Mário Mesquita, ex-diretor do BC. Se confirmada, será um upgrade para a instituição, que não vive seus melhores dias.
TCU vê desvios no Sesc Rio
» Com base em auditoria realizada pela Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio de Janeiro, o Tribunal de Contas da União reconheceu serem procedentes as denúncias de irregularidade no Sesc do Rio. O TCU decidiu converter o processo de investigação em Tomada Especial de Contas (TEC) para que uma comissão de auditores e advogados avalie o montante de recursos desviados. À época da representação ao Tribunal, em 2012, o Sesc Rio era presidido por Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-RJ.
TAM rebaixa benefício
» Os cortes de gastos pela TAM atingiram em cheio a hospedagem da tripulação da companhia aérea entre um voo e outro. Em Brasília, por exemplo, a pernoite da equipe de comissários e pilotos era, até o meio do ano passado, em um autêntico hotel cinco estrelas da capital federal. Neste ano, o pouso está sendo em um estabelecimento bem mais simples, em Taguatinga. De quebra, o tempo no engarrafamento, que tem chegado a uma hora, diminuiu o período de descanso dos funcionários.
Brasília, 09h05min