O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, se tornou a pessoa mais odiada da Esplanada dos Ministérios. Não poderia ser diferente em se tratando do homem que detém as chaves dos cofres de um governo gastador contumaz. Mas o sentimento que Levy tem despertado vai muito além dos nãos que ele diz a quem lhe pede dinheiro. Boa parte do governo e do empresariado está culpando o ministro pelo agravamento da situação econômica. Alega que a intransigência dele e a falta de jogo político minaram de vez qualquer perspectiva de recuperação da economia, mesmo que em 2016.
A sensação, quando se ouve os relatos sobre Levy, sobretudo de integrantes do Palácio do Planalto, é que ele se tornou a Geni do governo. Todos querem apedrejá-lo. É exatamente o contrário do que se percebia no início do segundo mandato de Dilma Rousseff, quando o ex-funcionário do Bradesco era visto como o salvador da Pátria, aquele que faria o serviço rápido de arrumação da casa e ajudaria o país a sair do atoleiro rapidamente. O ataque a Levy dentro do governo só não é mais explícito porque Dilma pediu calma aos críticos. Para ela, não é hora criar mais ruídos.
Aqueles que convivem diariamente com o ministro sabem que ele já sentiu o baque. Tanto que, de um mês para cá, mudou completamente o humor. Irrita-se com frequência. A paciência para ouvir se esvaiu. A vontade de trabalhar não é a mesma. O clima anda tão pesado na Fazenda, que vários cargos estão vagos, sobretudo no Tesouro Nacional. Levy afastou pessoas que eram ligadas ao antecessor, Guido Mantega. Achou que preencheria os postos com facilidade. Mas as recusas têm sido frequentes. Muitos consideram o governo ruim e acreditam que o ministro terá vida curta na chefia da equipe econômica.
A decepção de Levy é tamanha, que ele não se furtou de, no fim de semana passado, pegar um avião para Washington a fim de usufruir do conforto da família — a mulher e as duas filhas moram na capital dos Estados Unidos. A viagem, por sinal, suscitou uma onda de boatos de que ele estaria prestes a deixar o governo. Os rumores foram tão fortes, que o ministro foi obrigado a convocar uma entrevista para dizer que continua firme e forte no cargo. Mas, apesar da forma enfática com que se manifestou, a dúvida sobre a permanência dele na Fazenda ficou maior. Divisão da equipe O que se vê no governo é uma clara divisão, com Levy cada vez mais isolado. Um empresário que, meses atrás, esteve com o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Eliseu Padilha, conta que ouviu dele muitos elogios ao comandante da Fazenda. Mais recentemente, o mesmo Padilha já se mostrava contrariado com Levy, a quem acusava de estar mais atrapalhando do que ajudando o governo, principalmente na relação com o Congresso.
No Ministério do Planejamento, também se nota um incômodo com Levy. O discurso é sempre o de que falta sensibilidade ao ministro, o que o tem levado a colecionar uma série de derrotas dentro do governo, a mais flagrante delas, a redução da meta de superavit primário deste ano, de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB). As equipes de Nelson Barbosa e de Levy, por sinal, nunca tiveram uma boa relação. Uma acusa a outra de sabotagem. A desconfiança chega ao ponto de se tentar descobrir no noticiário quem foi a fonte de determinados assuntos para entender o que está por trás deles.
A divisão se estende até entre os subordinados diretos de Levy. Há uma guerra declarada entre o secretário executivo da Fazenda, Tarcísio Godoy, e o sub dele, Fabrício Dantas, que se tornou uma espécie de eminência parda. Godoy e Levy trabalharam juntos no Tesouro Nacional durante o primeiro mandato de Lula e no Bradesco. São superamigos. Mas a insubordinação de Dantas vem causando um mal-estar na relação, que já está se irradiando por todo o ministério.
Pessoas próximas a Dilma garantem que ela manterá, até quando for possível, Levy na Fazenda. A presidente reconhece que, hoje, com ela ameaçada pelo impeachment e o governo sem apoio popular, nenhum nome de peso, que teria o respaldo de empresários e investidores, aceitaria assumir o comando da equipe econômica. Alguns palacianos falam em Nelson Barbosa como potencial sucessor, pois conta com o aval de Lula. Mas o histórico do atual ministro do Planejamento não é dos melhores. Ele participou de boa parte das medidas adotadas no primeiro mandato da petista, que levaram o Brasil para o atoleiro.
“Vamos ver até quando Levy conseguirá levar essa pedreira. É visível que ele está desgastado. Sua voz, que já não é forte, enfraqueceu mais. A postura está curvada”, diz um integrante da base aliada do governo. No entender dele, para o país, é importante que Levy resista, pois uma saída repentina do ministro propagará o caos.
Brasília, 03h10min