Não há como negar: o PT é craque na arte da propaganda. Quem assiste aos programas exibidos pelo partido, como o de ontem à noite, chega a acreditar, nos primeiros momentos, que nada do que o país está vivendo hoje é culpa dos governos petistas. Nem a corrupção que foi construída e agigantada na era Lula nem o desastre econômico e a grave crise política que têm a digital de Dilma Rousseff.
Felizmente, a população — a grande maioria dela — já se deu conta de que tudo o que o PT faz é mera propaganda enganosa. Não cai mais nas armadilhas das mentiras usadas, sem constrangimento, durante a última campanha eleitoral. Os brasileiros estão pagando caro pelos erros cometidos pelo governo na economia e pela roubalheira que devastou a empresa que já foi símbolo do país, a Petrobras.
No programa de ontem, Dilma apareceu sorridente, vestida de branco, como se pregasse a paz. Foi enfática ao dizer que sabe “suportar pressões e até injustiças”. “Quem pensa que nos faltam energia e ideias para vencer os problemas está enganado. Eu tenho o ouvido e o coração neste novo Brasil que não se acomodam, que não se satisfazem com pouco”, disparou.
A força da presidente, no entanto, restringe-se às palavras. Dilma é hoje a chefe do Executivo mais impopular dos últimos 25 anos: 71% dos brasileiros consideram o governo dela ruim ou péssimo. Nas mesas de bar, nas salas de negócios dos bancos, no chão das fábricas, já se dá como certa a saída da petista do poder, seja por meio da renúncia, seja por meio do impeachment.
Agora, o que se discute é como e quando Dilma sairá. O governo, infelizmente, perdeu a representatividade, está sem condições de manter a governabilidade necessária para tirar o país do atoleiro. Quanto mais demorar para se achar uma solução que permita uma transição política menos traumática, mais o Brasil afundará. Os agentes econômicos não confiam mais neste governo, que, todos reconhecem, foi eleito democraticamente, mas perdeu a legitimidade.
O comportamento dos mercados financeiros ontem, em especial o de câmbio, no qual o dólar superou os R$ 3,50, foi um sinal claro de que os ativos estão sem referencial. Há uma espiral de descontrole. Quando se olha para o horizonte, não se vê nada, apenas um mar de incertezas que pode levar o Brasil a registrar uma década perdida, como nos anos de 1980 e de 1990. Os especialistas dão como certo dois anos de recessão. Será a primeira vez, desde o biênio 1930 e 1931, que isso acontecerá.
Os investidores já não acreditam mais nem mesmo no único porto de racionalidade que ainda resta no governo, a equipe econômica, cada vez mais dividida e em guerra declarada por poder. A sensação entre os formadores de preços é a de que a administração Dilma perdeu os instrumentos de gestão da política econômica. Qualquer decisão que for tomada agora será vista como um sinal de que os fundamentos pioraram geral.
Isso vale tanto para as taxas de juros, que podem voltar a subir diante da nova pressão do dólar sobre a inflação, quanto para o ajuste fiscal, que derreteu por completo. É por isso que os investidores já sacramentaram o rebaixamento do país e veem o dólar passando dos R$ 4, nível só observado no auge da crise de 2002, quando era grande a desconfiança sobre o governo comandado por Lula.
Contra Levy
A perda de credibilidade do Brasil é tão forte, que os papéis que medem o nível de risco do país, os Credit Default Swaps (CDS), seguros contra calotes, dispararam. Atingiram 330 pontos, nível só superado pelos títulos da Grécia e da Venezuela, países vistos como párias pelo mercado. Nos últimos 12 meses, o real acumula desvalorização de quase 60%. No ano, a moeda brasileira foi a que mais perdeu valor em todo o mundo ante a divisa dos Estados Unidos: caiu 33%. Desde que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou a redução da meta de superavit primário, de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB), o real tombou 11,4%. Foi o custo da derrota do chefe da equipe econômica.
Por sinal, o discurso de Levy defendendo maior austeridade foi destruído pela propaganda do PT, que exaltou os gastos feitos pelo governo entre 2012 e 2014 com a desculpa de minimizar os impactos da crise mundial. O partido listou as desonerações, que custaram, no período, R$ 38 bilhões, e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros e eletrodomésticos, cuja fatura chegou a R$ 32 bilhões. Desde que assumiu, o ministro deixou claro que tais medidas em nada contribuíram para o crescimento econômico. Serviram apenas para engordar os lucros das empresas beneficiadas.
Faz parte do jogo o PT querer iludir a população, ainda que esse comportamento seja deplorável. Mas a posição do partido só alimenta a desconfiança que está matando a economia. É uma pena que Dilma, que precisa tanto provar que realmente mudou e está disposta a corrigir os erros que cometeu, tenha aceitado fazer parte da farsa. No fim das contas, ela será a maior perdedora.
Brasil nada sexy
» Desde a última segunda-feira, Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice, está em Nova York, conversando com investidores. Foram 14 encontros com bancos e fundos, que não esconderam a preocupação com o futuro do país. A grande indagação é sobre o que será do Brasil se Dilma for afastada.
Impeachment sem traumas
» Noronha diz que o Brasil saiu da lista de preferência desses investidores, que foram machucados pelo desastre econômico provocado pelo governo. Para os donos do dinheiro, um impeachment não deve ser tão traumático, pois, depois da queda de Collor e da posse de Itamar Franco, surgiu o Plano Real.
Brasília, 08h30min