O 1º de janeiro deste ano foi o mais mortal em Portugal desde 2014: 507 pessoas foram a óbito. Também o 25 de dezembro, dia de Natal, com 450 falecimentos, foi o pior em uma década. Os registros de mortes vêm se acelerando desde a terceira semana de dezembro do ano passado.
Pelos cálculos do SNS, apenas nas duas últimas semanas de dezembro de 2023, houve 786 mortes em Portugal além do previsto. Esse excesso de óbitos se concentra entre pessoas com mais de 65 anos, mais vulneráveis às síndromes respiratórias agudas, comuns no inverno. É importante ressaltar que o sistema de vacinação em território luso é burocrático e limitado.
Emergências vivem o caos
O que mais preocupa os especialistas é que as emergências dos hospitais públicos vivem um caos. Há uma combinação explosiva entre falta de médicos e enfermeiros com excesso de pessoas precisando de atendimento. Algumas emergências, inclusive, estão fechadas por falta de pessoal.
O governo conseguiu fechar, recentemente, um acordo com os sindicatos de médicos, que vinham fazendo paralisações constantes, mas isso não foi suficiente para reverter o quadro gravíssimo. O problema é que Portugal tem formado poucos médicos e boa parte dos que pegam o diploma prefere emigrar para outros países da Europa, onde os salários são maiores.
Há outro problema: os profissionais mais jovens que ficam no país não aceitam fazer horas extras na rede pública e são disputados pelos hospitais privados, com salários maiores e melhores condições de trabalho. Os médicos mais velhos não dão conta de atender todas as escalas definidas pelo SNS.
Corporativismo dos médicos atrapalha
Os especialistas ressaltam, ainda, que, dificilmente, esse quadro será revertido tão cedo, por causa, sobretudo, do corporativismo. A Ordem dos Médicos impõe uma série de restrições para a entrada de profissionais de outros países em Portugal, inclusive para os brasileiros, que poderiam suprir parte da demanda.
No meio do ano passado, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, anunciou que o governo pretendia contratar até 300 médicos da América Latina para atuar, principalmente, nas regiões do Alentejo, do Algarve, em Lisboa e no Vale do Tejo.
À época, o Blog antecipou que o governo português havia encaminhado cartas para universidades públicas do Brasil convidando jovens médicos a se inscreverem no programa. Até hoje, porém, pouco se avançou nesse projeto. O salário bruto oferecido foi de 2.683,21 euros (cerca de R$ 15 mil) por mês, num contrato de três anos.