A real de Portugal: “O que está um preto a fazer na polícia?”, diz ataque racista

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O racismo entranhado na sociedade portuguesa não se intimida em dar as caras. O alvo da vez é um anúncio feito pela Polícia de Segurança Pública (PSP), correspondente à Polícia Militar do Brasil, para a formação de oficiais.

O comunicado convocando candidatos para as vagas tem como garoto-propaganda um homem negro. Desde a divulgação da propaganda nas redes sociais, os racistas não dão trégua e perguntam: “O que está um preto a fazer na polícia portuguesa?”.

O discurso de ódio é assustador e explicita a dificuldade dos portugueses em lidar com a diversidade de raças trazida pelo aumento da imigração. “Parece-me que alguém trocou a foto do polícia e do ladrão”, diz um cidadão. “Mudamos para a África e eu não sabia”, escreve outro.

Os ataques são tão virulentos, que o Ministério Público, a pedido da PSP, abriu investigação para identificar os racistas. A direção da polícia disse repudiar os comentários, que foram retirados das redes. A polícia, no entanto, é acusada, muitas vezes, de agir com xenofobia e ferocidade quando os alvos são estrangeiros e negros.

Resta saber se, desta vez, haverá realmente punição exemplar para os racistas. Historicamente, Portugal tem dificuldade para punir esse tipo de crime. O retrato desta leniência com os racistas pode ser visto, sem retoques, no documentário “Debaixo do tapete”, da jornalista Catarina Demony.

De forma corajosa, ela mostra que seus antepassados foram uns dos maiores traficantes de escravos de Angola para o Brasil e liga esses crimes ao comportamento de hoje dos portugueses, que ainda se recusam a lidar com esse passado cruel.

Vicente Nunes