Mas a verdade é que os portugueses, em maioria, têm se mostrado bastante solidários com os brasileiros em dificuldades. São eles que, na hora do sufoco, estendem as mãos, enquanto os conterrâneos fogem ou se fazem de mortos.
O mineiro Arlindo Pereira, 53 anos, perdeu quase tudo o que tinha durante a pandemia da covid. A empresa de transportes que garantia uma boa vida a toda a família dele quebrou e as dívidas se acumularam.
Apesar dos muitos amigos brasileiros que o rodeavam, foi um ex-funcionário dele, um português, que, quando soube das dificuldades que Arlindo estava passando, lhe ofereceu um emprego de motorista.
Pouco mais de um ano depois, o mineiro, que cresceu no Rio de Janeiro, é só gratidão. “Hoje, estou com todas as minhas contas em dia, consegui alugar um bom imóvel e tenho um trabalho digno, graças a esse português”, diz.
Na saúde e na doença
A produtora de eventos, palestrante e ativista Adélia Pauferro, 44, sempre faz questão de ressaltar o quanto os seus vizinhos portugueses foram fundamentais num dos períodos mais difíceis da vida dela.
A baiana havia sido roubada pelo sócio — um brasileiro — da empresa que ela tanto havia se esforçado para abrir. Com dívidas, ela descobriu um câncer, teve de operar, foi desenganada pelos médicos, mas sobreviveu.
Em todo o período em que esteve no hospital, os vizinhos portugueses pagaram as despesas da casa dela, inclusive, o aluguel. No dia em que ela deixou o hospital, eles fizeram uma bela compra para recebê-la.
Adélia conta que também os médicos que a atenderam no período em que ela passou no hospital — todos portugueses — foram extremamente atenciosos e não economizaram esforços para que ela se recuperasse.
Um mar de decepção
O carioca João Pedro Rodrigues, 37, também é gratidão aos amigos portugueses que fez nos dois anos em que mora em Portugal. Quando desembarcou no país, ele estava certo de que os amigos brasileiros que o haviam incentivado a cruzar o Atlântico o ajudariam caso precisasse.
Mas a decepção foi grande. Rodrigues demorou meses para arrumar um emprego, devido à dificuldade para obter a autorização de residência em Portugal. Assim que o dinheiro que ele havia juntado para se mudar acabou, não teve mais como pagar o aluguel do quarto na casa dos amigos brasileiros.
Em questão de dias, foi despejado. Um português que tinha um quarto vazio em casa disse que o carioca poderia ficar ali e, assim que arrumasse um trabalho, ajudaria nas despesas. “Foram mais de quatro meses no sufoco, mas o português foi muito generoso”, afirma.
Hoje, Rodrigues mal fala com os brasileiros nos quais ele havia depositado uma enorme confiança. Praticamente, só responde algumas mensagens que recebe deles. Os amigos de verdade, assegura, são os portugueses que ele conheceu quando tudo parecia perdido um mar de decepção.