A real de Portugal: movimentos anti-imigração avançam no país

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Um amplo estudo realizado pela brasileira Thaís França, doutora em Sociologia pela Universidade de Coimbra, mostra que Portugal já está no mapa anti-imigração da Europa. Ainda que não seja um movimento solidificado, os casos de xenofobia vêm se tornado cada vez mais frequentes, refletindo o aumento da presença de estrangeiros no país, em especial, de brasileiros.

Os gritos de “volta para o seu país” — como ouvido nesta semana, no Porto, quando uma portuguesa agrediu uma brasileira — viraram rotina. Também têm sido frequentes denúncias de agressões que já levaram brasileiros à morte ou deixaram sequelas, como no caso de Jefferson Tenório (foto). Alguns desses atos de violência, inclusive, partiram da própria polícia, que deveria garantir a proteção de todos, independentemente da nacionalidade.

O estudo, intitulado Mapping Out: Portugal on the European anti-immigrant movements map, faz um alerta contundente: “Ao contrário de uma ideia corrente, os movimentos anti-imigração não são inexistentes em Portugal, mas estão adormecidos, em momento de (re) organização, e suas atividades têm se desenvolvido, sobretudo, em redes mais restritas”.

O avanço da extrema-direita direita em Portugal tem estimulado o ataque a imigrantes, especialmente entre os grupos que se veem ameaçados pela abertura do país, que, hoje, não consegue sobreviver sem a mão de obra que vem de fora. Há setores, como o da construção civil e de turismo, em que os portugueses se recusam a trabalhar, devido aos baixos salários.

Para a socióloga, embora a imigração não tenha a centralidade na agenda dos partidos portugueses de direta, como acontece em outros países europeus, o endurecimento das políticas migratórias e de acesso à nacionalidade portuguesas é uma demanda explícita do partido de extrema direita, Chega. Isso, ao mesmo tempo em que o PSD, maior partido de oposição ao atual governo, também tem apresentado posturas mais conservadoras sobre esse tema.

Discurso de ódio

Segundo Thaís, que é filiada ao Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), do Instituto Universitário de Lisboa (Iscte),  infelizmente, a ação dos movimento anti-imigração tem tido pouca visibilidade em termos de mobilizações de ruas e em cobertura midiática em Portugal. “Contudo, o crescimento dos discursos de ódio contra imigrantes, assim como o aumento de episódios de violência, mostram que, ao contrário do que se possa imaginar, essas mobilizações não são inexistentes no país”, frisa.

A professora ressalta, ainda, que a negação do racismo em Portugal e a retórica de país aberto e tolerante com a diversidade cultural contribuem para a minimização de manifestações anti-imigração como sendo casos individuais, que, portanto, não demandam promoção de medidas de prevenção e enfrentamento.

Por isso, destaca a autora do estudo, é fundamental que decisores políticos não subestimem o potencial de articulação que tais movimentos anti-imigração podem desenvolver ao longo dos próximos anos. É preciso que as autoridades ajam tempestivamente para que o problema não se agrave, como ocorreu em países com a França e a Itália.

Forma entrevistados, em Portugal, ativistas que declaram fazer parte de movimentos anti-imigração. É ficou claro o quanto eles estão se organizando sem que haja um enfrentamento ao problema, que passa, especialmente, pela educação e pelo combate à normalização do tema. Não há romantização nesse tema.

O Mapping Out será lançado no próximo 29 de novembro na Universidade de Lisboa. O estudo ” faz parte de uma colaboração transnacional liderada por Kristian Berg Harpviken Peach, professor do Research Institute Oslo (Prio), na Noruega, que investiga as mobilizações anti-imigração em diferentes países da Europa — Alemanha, Itália, Polônia, Reino Unido e Portugal —, analisando as suas dinâmicas transnacionais e o seu impacto sobre as respectivas agendas nacionais e europeias da migração.

Vicente Nunes