A real de Portugal: médica, o marido dela e um amigo são agredidos por policiais e detidos

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A violência policial contra imigrantes em Portugal não tem limites. A médica brasileira Danielle Brunialti Rocha, que saiu recentemente de uma gravidez e está amamentando, foi agredida por agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) e o marido dela, Hendres, e um amigo, Nivaldo, também agredidos e detidos.

Segundo relato da médica nas redes sociais, tudo aconteceu na quarta-feira (19/07), dia do aniversário do marido dela. Tudo começou  com um passeio de Hendres e de Nivaldo pelo Bairro Alto, um dos mais tradicionais de Lisboa, onde a boemia é marca registrada.

Danielle conta que não quis acompanhá-los, porque viajaria mais tarde. Preferiu descansar, já que está com uma recém-nascida em casa — a filha tem apenas dois meses.

No meio do caminho, um grupo de portugueses ficou incomodado com Nivaldo e chamou a polícia. Ele e Hendres foram abordados pelos agentes.

Discriminação clara

A médica chama a atenção para o fato de apenas os dois brasileiros terem sido interpelados pelos agentes de segurança. Hendres apresentou o cartão de identidade local e Nivaldo, a manifestação de interesse em residir em Portugal, o primeiro passo para a obtenção da autorização de residência.

Ao mesmo tempo em que entregou a documentação, Hendres questionou o porquê de somente eles terem sido abordados, se ali havia mais pessoas. Na mesma hora foi ameaçado de agressão por um dos policiais. Diante do que estava acontecendo, várias pessoas que estavam por perto começaram a filmar e a registrar toda a truculência da polícia.

Foi nesse momento que Danielle tomou conhecimento de tudo o que estava se passando. Ela telefonou para o marido para felicitá-lo pelo aniversário — eram 2h da manhã. Do outro lado da linha, Hendres pediu que ela ligasse para o advogado deles, pois ele e Nivaldo estavam sendo discriminados e vítimas de abuso de poder policial.

“Liguei para o advogado e fui buscar meu marido. Quando cheguei onde ele estava, ele me informou que o Nivaldo havia sido levado para a delegacia (esquadra). Liguei para o advogado e pedi para ele se encontrar comigo lá”, relata.

Socos no corpo e no rosto

Segundo a médica, assim que chegou à delegacia, não foi maltratada pelos policiais. “Mas já estava nervosa, pois conheço meu marido e ele estava devastado pela forma como havia sido tratado”, frisou. Um dos agentes lhe disse que Nivaldo havia sido detido como forma de repreensão.

Foi aí que o pior aconteceu. Danielle afirmou que daria parte do policial que tinha ameaçado o marido dela, que muita gente havia gravado e que tudo já estava na internet. “Aí, os ânimos mudaram e apareceu um outro policial, que me agrediu. Eu, mulher, médica, amamentando, fui agredida! E ameaçada de ser levada presa por desacato”, diz.

Para protegê-la, Hendres entrou na frente e foi puxado pelos policiais e agredido fisicamente. “Eles o deitaram no chão e bateram no corpo e rosto dele. Comecei a gritar e fui ainda mais ameaçada. Algemaram meu marido”, relembra. Tanto ela quanto Hendres, em nenhum momento, revidaram qualquer ato físico. Não satisfeitos, os policiais tomaram os telefones dos dois, e o marido foi levado para uma outra sala.

Felizmente, neste momento, o advogado do casal chegou à delegacia e Danielle lhe contou tudo o que havia se passado. Imediatamente, o jurista ressaltou que a abordagem dos policiais havia sido abusiva e ilegal e pediu para devolverem o celular de Danielle.

A mulher, por sinal, tinha dito aos policiais que era médica e que precisava ficar com seu telefone para o caso de um paciente lhe ligar. Também precisava ficar em contato com a babá, que estava em casa com as crianças. “Como foi algo ilegal, devolveram na hora”, frisa.

Diante da presença do advogado, Nivaldo foi liberado, mas, quando ele saiu, disse que viu Hendres sendo espancado. Danielle ficou tão nervosa, que teve uma crise hipertensiva e foi preciso chamar uma ambulância. Os paramédicos também atenderam o marido dela, que estava sangrando.

Luta pelos direitos

Apesar de toda a violência que sofreu, Hendres ainda foi notificado por desacato. “Mas vamos recorrer, ir atrás dos nossos direitos e punir os verdadeiros monstros”, promete a médica.

Ela destaca que não quer provocar polêmica com seu relato. “Longe de mim. Muita gente me conhece, sabe a médica e a pessoa que sou e o quanto sempre defendi Portugal. Sei que há discriminação e racismo em todos os países, e continuo a achar Portugal um dos melhores países do mundo e com muitas pessoas boas”, assinala.

Para Danielle, o objetivo, ao expor sua vida, é ajudar outras pessoas a também lutar pelos seus direitos da maneira correta. “Amo Portugal, e isto não mudou. Mas, em todos os lados, temos anjos e demônios. Há pessoas más e acredito que deixar discriminação, racismo e abuso de poder policial saírem ilesos é errado. Só mudamos o que enfrentamos!!! Nós vamos lutar!”, afirma.

O Blog está tentando contato com a Polícia de Segurança Pública e está aberto para qualquer manifestação.

Vicente Nunes