Tudo lhe dói. O corpo e a alma. Mas, depois de respirar fundo, afirma que não vai desistir de enfrentar na Justiça o seu agressor. É questão de honra para ela. “Sim, estou emocionalmente abalada, mas já venci um câncer, não será um soco que vai me derrubar”, diz.
Além do soco que lhe rasgou a boca e do chute que levou na barriga dado por João Bernardo, Grazielle, que mora em Braga, se ressente da indiferença da maioria dos colegas da sala de aula que presenciaram a agressão da qual ela foi vítima. Ninguém estendeu as mãos para ajudá-la a se levantar do chão. Ninguém atendeu o seu pedido para chamar a polícia.
“A única pessoa que me socorreu e ficou ao meu lado a todo instante foi uma professora”, conta a brasileira, que é jornalista. “Foi ela que me amparou e repreendeu o segurança da universidade que tentou, a todo mundo, dizer que eu era a culpada pelo que tinha acontecido. O tempo todo ele me perguntava o que eu tinha dito ao João Bernardo para ele me agredir daquele jeito”, acrescenta.
Agressões constantes
Segundo a brasileira, o comportamento misógino e xenofóbico do português já havia ficado claro dias antes, quando os dois, mais uma brasileira e outro aluno montaram um grupo no WhatsApp para debater um trabalho que deveriam entregar na faculdade até 5 de dezembro. Nas mensagens, João Bernardo tratava as duas mulheres de forma muito agressiva.
Foi na tarde de terça-feira (28/11) que a violência do português em relação a Grazielle explodiu. Os quatro integrantes do grupo combinaram de se encontrar na universidade às 17h para combinarem o que diriam à professora sobre o trabalho. A brasileira se atrasou alguns minutos. Foi o suficiente para ele escrever mensagens pesadas no WhatsApp.
A brasileira conta que, quando os dois se encontraram, João Bernardo lhe colocou o dedo na cara e começou a disparar palavrões. Ela desabou a chorar. “Me acalmei e fui para a sala de aula, onde encontrei o homem que me agrediu. Ele dava ainda mais sinais de nervosismo. Começou a entrar e a sair da sala e a me encarar. Numa das vezes, disse para ele que não tinha medo de cara feia”, relata.
Ele ampliou os ataques. “Me mandou calar a boca. E eu falei que estava para nascer o homem que mandaria eu me calar”, afirma. “Estava sentada em um banco, com um guarda-chuva numa mão e um celular na outra. Quando me levantei, ele me deu um chute na barriga e um soco na boca. Caí. O guarda-chuva foi para um lado e o celular, para outro”, relembra.
Persistência, sempre
Grazielle foi ouvida por agentes da Guarda Nacional Republicana (GNR) logo depois da agressão. Passou por exames no Hospital de Braga e espera que se faça Justiça. “Não vim para Portugal para isso, mas vou fazer valer os meus direitos. Não é possível que uma agressão como a que sofri fique impune”, diz.
Ela também ressalta que não sairá do grupo montado para fazer o trabalho pedido pela universidade. “Se alguém tem de sair do grupo, é o agressor. Eu sou a vítima”, enfatiza. Ela foi normalmente às aulas desta quarta-feira (29/11) da tão sonhada pós-graduação. No ônibus que a levou para a casa, toda a violência que sofreu lhe martelou a cabeça. Mas jamais pensou em desistir.