A real de Portugal: imigrantes usam a arte em resposta à xenofobia

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Os casos de xenofobia, racismo homofobia e misoginia contra a comunidade brasileira em Portugal serão enfrentados com muita arte e cultura. Foi pensando nisso que a produtora Adélia Pauferro organizou o Festival Imigrante Cria, que será realizado na Fábrica Braço de Prata, neste sábado, 29 de julho.

A ideia do evento ganhou força depois que Adélia se deparou com as ameaças à Embaixada do Brasil em Lisboa e com a violenta agressão sofrida pelos brasileiros Jefferson Tenório e o marido dele, Luís Almeida. Os dois foram espancados por seguranças do bar Titanic, no Cais do Sodré, por um motivo banal: Luís tentou retornar ao estabelecimento, onde havia se divertido parte da noite, para ir ao banheiro e foi barrado. Ao reclamar, ele e Jefferson foram agredidos a socos e pontapés.

“Não queremos mais violência, queremos arte e cultura”, diz Adélia. “Os crescentes casos de violência contra brasileiros têm nos assustado, mas não devemos reagir na mesma moeda, o que temos de mostrar é a nossa importância como imigrantes, como contribuímos para a economia de Portugal e como somos criativos e felizes”, acrescenta.

A produtora sabe que enfrentar a xenofobia, o racismo e a misoginia não será tarefa fácil. “Mas estamos dispostos, pois vejo os atos como isolados e porque creio que a maioria dos portugueses é favorável aos imigrantes”, ressalta ela, que lista uma série de eventos que acontecerão ao mesmo tempo no festival. Além de uma multiplicidade de shows, haverá uma feira gastronômica, mostras de artesanatos, dança e palestras tendo como tema principal o preconceito.

Será um grito em resposta a todos os casos recentes e do passado de agressão a brasileiros em Portugal. Há pouco mais de uma semana, a médica Danielle Brunialti Rocha, o marido dela, Hendres, e um amigo, Nivaldo, foram agredidos por policiais simplesmente por serem estrangeiros, mais precisamente, por serem brasileiros.

A violência começou quando um grupo de portugueses implicou com Nivaldo. Os policiais que estavam por perto, em vez de combaterem a xenofobia, trataram de elevá-la ao mais alto grau. Não apenas prenderam Hendres e Nivaldo, como espancaram os dois e ainda agrediram Danielle, que havia saído de uma gravidez dois meses antes.

Adélia não tem dúvidas de que a luta contra o preconceito será longa, mas está disposta a levar a sua empreitada adiante, com apoio de artistas, empreendedores, acadêmicos e todos aqueles que lutam por uma sociedade mais inclusiva e pacífica.

O Festival Imigrante Cria começará a partir das 15h e vai se estender até às 2h da manhã de domingo (30/07). A entrada é gratuita. O único evento pago será o forró, com tíquete a 5 euros (R$ 27,50).

Vicente Nunes