A real de Portugal: falsas acusações do Ministério Público alimentaram extrema-direita

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As falsas acusações de corrupção feitas pelo Ministério Público de Portugal contra o então primeiro-ministro António Costa e vários de seus auxiliares foram fundamentais para o forte crescimento da extrema-direita no país. O partido radical Chega, que se alimentou dos erros cometidos pelos procuradores — não se sabe se intencionais — quadruplicou a bancada na Assembleia da República nas últimas eleições, de 12 para 50 deputados, liderados por André Ventura.

Nesta semana, o Tribunal da Relação de Lisboa derrubou todas as suspeitas contra Costa e ex-ministros, sob a alegação de que a Operação Influencer, deflagrada em novembro de 2023, não comprovou as acusações de favorecimento do governo a empresários ligados à exploração de lítio e hidrogênio verde e à construção de um data center em Setúbal.

Diante da repercussão do caso, Costa, do Partido Socialista (PS), decidiu renunciar ao mandato de primeiro-ministro e seus auxiliares foram demitidos. A pedido do Ministério Público, o então chefe de gabinete de Costa, Vitor Escária, e empresários chegaram a ser presos. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições.

Para integrantes do Partido Socialista, com a Operação Influencer, o Ministério Público de Portugal teve atuação semelhante ao que se viu no Brasil, com a Operação Lava-Jato, que foi toda desmontada por uma série de inconsistência. A partir das ações do então juiz Sergio Moro, em conluio com procuradores, houve uma demonização da política tradicional e a ultradireita ganhou musculatura, chegando à Presidência da República por meio da eleição de Jair Bolsonaro.

Há uma cobrança generalizada no mundo político para que o Ministério Público explique, claramente, porque agiu para derrubar um governo eleito democraticamente. Os procuradores dizem que ainda estão buscando provas para comprovar as denúncias de corrupção e que, mesmo com a decisão do Tribunal da Relação, as investigações contra Costa e os ex-auxiliares dele continuam.

Vicente Nunes