A real de Portugal: brasileiros têm até três empregos para bancar comida e aluguel

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Um ano e meio depois de aportar em Lisboa, a paranaense Maria Cristina, 32 anos, diz que está “desesperadamente” atrás de trabalho nos fins de semana e feriado. O que ela ganha com os dois trabalhos que lhe consomem 14 horas do dia, de segunda a sexta, já não está sendo suficiente para bancar suas despesas em Portugal e garantir o sustento da família no Brasil.

“Não está sobrando nada. Mal consigo pagar minhas contas de aluguel e com supermercado”, diz ela. “Se fossem somente as minhas despesas em Portugal, até que estaria um pouco mais tranquila. O problema é que tenho de mandar dinheiro para a minha família no Brasil todos os meses”, ressalta.

Com os dois trabalhos, ela recebe 1.200 euros (R$ 6,6 mil) líquidos por mês, dos quais 700 euros (R$ 3.850) vão para o aluguel de um apartamento de um quarto em Almada, na região metropolitana de Lisboa. Além disso, há os 300 euros (R$ 1.650) das despesas de supermercados e os 100 euros (R$ 550) em compromissos no Brasil. “Tem mês que falta dinheiro. Por isso, preciso de mais um trabalho”, afirma.

Sem tempo para descanso

Para ela, na situação em que se encontra, não há espaço para descanso. “É melhor trabalhar todos os sábados, domingos e feriados do que não ter a certeza se, no fim do mês, terei dinheiro para despesas básicas”, diz. “Só vou pensar em descansar quando, realmente, conseguir juntar um dinheiro. Não quero mais viver com tanto sufoco”, complementa.

Mesmo com todas as dificuldades, Maria conta que a situação dela é boa perto de muitos amigos brasileiros que decidiram se mudar para Portugal acreditando que ficariam bem de vida. “Tem gente que não está conseguindo pagar o aluguel de um quarto de 400 euros (R$ 2.200) por mês. Para ter onde morar, fazem apenas uma refeição por dia”, relata. Os brasileiros em situação mais vulnerável moram em garagens ou carros.

Maria reconhece que supervalorizou a vida em Portugal antes de se mudar para o país. “Não imaginava que tudo ficaria tão caro”, destaca. Por enquanto, ela não pretende voltar para o Brasil. “Vou dar mais um tempo para ver se as coisas melhoram. Acredito que ainda vou alcançar meus objetivos”, emenda.

Sonho com Luxemburgo

Com a autorização de residência que acabou de conquistar por meio do acordo de Portugal com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ela sonha se mudar, mais à frente, para Luxemburgo, que integra a União Europeia e onde têm uma ampla comunidade de brasileiros. “Sei que as coisas lá são bem mais caras, mas, também, os salários são maiores”, diz.

Para Fábio Knauer, fundador e sócio da Aliança Portuguesa, empresa especializada em imigração, é preciso muito planejamento para se mudar de um país para o outro. É legítimo o desejo de se melhorar de vida, mas sair do Brasil requer muito, mas muito planejamento. Sem esse preparo, a frustração é quase uma certeza. Há brasileiros que estão vendo o dinheiro que levaram para Portugal se esgotar em apenas um mês.

Vicente Nunes