Naquele dia, Thaís decidiu almoçar com o ex-marido, um português, em uma hamburgueria da moda de Lisboa. O que era para ser um momento de tranquilidade se transformou em um pesadelo. Além de ser estapeada nas costas, foi jogada na rua pelos donos do estabelecimento comercial, os irmãos espanhóis Juan e Luís Castilho, que negam as agressões presenciadas por vários clientes.
Thaís, que tem nacionalidade portuguesa, conta que, desde a chegada à hamburgueria, percebeu que algo estranho estava acontecendo. Assim que adentrou o estabelecimento, que ainda estava vazio, foi barrada por uma funcionária do local.
Superado o choque, ela e o ex-marido foram encaminhados para uma mesa, mas os funcionários a olhavam, faziam comentários e riam. “Era uma brasileira com um português, coisa inadmissível para pessoas preconceituosas e xenófobas”, diz.
Desrespeito geral
Thaís e o ex-marido comeram, ainda que incomodados com o clima na hamburgueria, que começava a encher. Ele, no entanto, precisou ir embora mais cedo. Mas, antes de sair da hamburgueria, perguntou se realmente ela estava confortável para ficar ali sozinha, diante de tudo o que havia acontecido. Thais disse que sim. Jamais passou pela cabeça dela que pudesse ser vítima de violência.
Antes de pagar a conta, porém, ela pediu a um dos funcionários do restaurante, um brasileiro, o livro de reclamações, que deve estar sempre à disposição dos clientes. É uma tradição em Portugal. O que ela não esperava é que um direito previsto em lei, o de reclamar de um mau atendimento, fosse resvalar para agressões física e verbais.
Ao pedir para falar com o gerente, acabou encaminhada para Luís, um dos donos da hamburgueria, que estava em uma mesa próxima. A brasileira se sentou para conversar com o empresário, que já elevou o tom de voz. Ela pediu, por favor, que ele falasse baixo. De repente, o espanhol se levantou, afirmou que Thaís era muito mal-educada e lhe deu dois tapas nas costas. “Fiquei em choque”, conta.
Cenas explícitas de xenofobia
Luís e o irmão pegaram a brasileira pelos braços, um de cada lado, e a arrastaram para fora da hamburgueria. Nesse momento, Juan chamou a brasileira de vagabunda e disse que ela não era bem-vinda ao local. Nisso, alguns clientes portugueses — a maioria, mulheres — passaram a atacá-la verbalmente. Foram muitos palavrões e cenas explícitas de xenofobia.
Para tentar jogar a culpa do ocorrido no colo de Thaís, os empresários chamaram a Polícia de Segurança Pública (PSP). Contudo, quando viram as marcas de violência nos braços da brasileira, os policiais recomendaram que ela fosse a um médico e, em seguida, ao Instituto Médico Legal (IML) fazer exames de corpo de delito.
Diante da repercussão negativa nas redes sociais — Thaís fez um longo relato sobre as agressões sofridas por ela —, os donos da hamburgueria decidiram mover um processo contra a brasileira, alegando que foi ela quem criou toda a confusão, atacando funcionário e clientes.
“Estou disposta a levar esse caso até o fim. Não tenho medo. Sei que estou certa e quero que meus direitos sejam reconhecidos. Fui agredida por dois homens. Isso não pode ficar impune”, destaca a brasileira. “Tenho um filho e não quero que ele cresça acreditando que a violência contra mulheres é uma coisa normal. Não é”, acrescenta.
Procurado, o advogado dos irmãos Castilho, Rui Carlos Colmonero, não retornou a ligação nem à mensagem enviada por e-mail.