As condições externas e os sinais de que o novo governo parece não estar dando a prioridade necessária para a reforma da Previdência, a mais importante de todas, tem preocupado os analistas. Apesar de a proposta ser bem ampla e ter sido apresentada em 20 de fevereiro, ela ainda mal começou a ser articulada no Congresso, que ainda não montou as comissões. E, enquanto o governo não enviar o projeto da reforma dos militares, dificilmente a roda vai girar.
E, para piorar, Bolsonaro, começa a queimar munição sinalizando mudanças antes mesmo de negociar com parlamentares e protagonizando nova crise de credibilidade internacional com vídeo polêmico publicado na internet no carnaval, que desvia o foco e só ajuda a afugentar investidores para o país quando ele aparece em rede social perguntando o que é “golden shower” — algo nada apropriado para alguém que governa a maior economia da América Latina. O impacto dessa confusão nas expectativas deverá ser refletido nos próximo Boletim Focus, do Banco Central.
Após o resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, a mediana das expectativas do mercado para o crescimento da economia brasileira neste ano passou de 2,48% para 2,3%, conforme o Focus desta semana. Contudo, esse dado é muito otimista se comparado com a nova estimativa de crescimento do PIB do Brasil, de apenas 1,9%, recém revisada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). As entidades multilaterais costumam ser sempre mais otimistas do que o mercado em geral. Portanto, novos cortes nas previsões devem vir por aí.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, parece estar esperando a poeira desse carnaval tumultuado baixar, pois evitou vir para Brasília nesta semana. Agenda dele na capital federal, apenas a partir de segunda-feira. Analistas já sentem falta de ação do ministro. Ele tem evitado dar entrevistas e declarações. Nem mesmo a promessa feita por ele de anunciar uma medida por dia nos primeiros 100 dias foi cumprida.