A dicotomia entre os investidores no mercado financeiro

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ROSANA HESSEL

Os investidores nacionais e estrangeiros continuam divididos em relação ao Brasil no mercado financeiro, revelando  uma certa dicotomia entre eles.  De um lado, os brasileiros estão eufóricos e apostam todo dia em um novo recorde da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), sem levar em conta a crise política do governo Jair Bolsonaro ou declarações polêmicas de seus filhos, que têm grande influência sobre o pai. Já os não residentes se mostram bem cautelosos e continuam tirando seus dólares do país, pois estão atentos aos riscos fiscais, que não foram dissipados com a reforma da Previdência, e ao clima mais turbulento nos cenários interno e externo.

Essa euforia de investidores nacionais ganhou força quando o índice de contratos futuros de CDS (Credit Default Swap) com vencimento em cinco anos, recuou para 116 pontos, ontem. Mas esse dado está subindo hoje e está em 118,3 pontos. Já a B3 voltou a cair, ficando abaixo dos 107 mil pontos em meio às divulgações das declarações polêmicas do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) evocando a possibilidade de um AI-5 como resposta à “radicalização da esquerda”.

Vale lembrar que esse patamar de CDS para o Brasil, apesar de parecer baixo se comparado com anos anteriores, ainda é maior do o que muitos emergentes. O índice que para esse tipo de seguro contra o calote dos governos, considerando o mesmo prazo de vencimento, é de 76,22 pontos na Colômbia. Na Índia, de 72,30 pontos. As notas de classificação de risco desses países, inclusive, são melhores do que a do Brasil, que ainda tem um quadro fiscal frágil, apesar de a taxa básica de juros (Selic) estar em 5% ao ano, novo piso histórico.  Na Alemanha, que lidera o ranking de menor risco país do site World Government Bonds, tem CDS de apenas 9,4 e é triplo A na classificação da Standard & Poor’s (S&P).

Aliás, as agências de classificação de risco, mesmo com a aprovação da reforma da Previdência, já sinalizaram que pretendem aguardar o avanço das demais propostas. A S&P informou que só deverá rever a nota de risco do Brasil, atualmente em BB- (três degraus abaixo do grau de investimento), “daqui a dois anos”, se as demais reformas avançarem e o crescimento do país superar as expectativas. A entidade prevê crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 0,8%, neste ano, e de 2%, em 2020.

Cautela

Na contramão do investidor doméstico, o estrangeiro está bem mais cauteloso em relação ao Brasil e eles não ficam satisfeitos com o fato de o governo informar que, neste ano, vai conseguir cumprir a meta fiscal de deficit de R$ 139 bilhões “com folga”. Tanto que o fluxo de saída de dólares continua crescente neste ano. Conforme os dados do Banco Central, o saldo das operações cambiais continua negativo e chegou a -US$ 21,1 bilhões no acumulado de janeiro até o dia 25 de outubro. Nesse mesmo período, o saldo comercial ficou positivo em US$ 12,4 bilhões, mas o resultado das operações financeiras ficou negativo em US$ 33,5 bilhões.

Os Investidores estrangeiros costumam olhar para o endividamento do governo, que continua crescente, para aplicarem seus recursos. Conforme dados do BC divulgados hoje, a dívida pública líquida somou R$ 3,907 trilhões no acumulado em 12 meses até setembro, o equivalente a 55,3% do Produto Interno Bruto (PIB), dado 1,2 ponto percentual acima do registrado no mesmo período do ano passado. Enquanto isso, a dívida pública bruta do governo geral alcançou R$ 5,580 trilhões, o equivalente a 79,0% do PIB, registrando alta de 1,8 ponto percentual na mesma base de comparação.

Vicente Nunes