Até o embate, que explicitou a fragilidade de Guedes dentro do governo, a preocupação dos agentes econômicos com a gastança federal estava sob total controle.
Entre os economistas mais otimistas e os menos confiantes ante os rumos do país, há poucas divergências na questão econômica. A percepção é de que o ritmo de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) está mais forte do que o esperado, a inflação está sob controle, os juros reais estão negativos e, de quebra, o mundo vem ajudando o país.
Portanto, a grande dúvida que paira sobre a cabeça de todos é política. E essa questão foi superdimensionada quando Bolsonaro sinalizou que já não estava mais fechado com seu Posto Ipiranga e começava a se pautar pelo grupo liderado pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, defensor da abertura dos cofres para investimentos em obras mirando as eleições de 2022.
Presidente e Bolsonaro mexeram com a confiança dos agentes econômicos
O que todos querem saber, agora, é se vai prevalecer a gestão responsável das contas públicas. Guedes é visto como símbolo dessa responsabilidade fiscal, mas não, necessariamente, significa que ele é intocável. Seja quem estiver no comando do Ministério da Economia, é importante o compromisso com o teto de gastos, pois há muita coisa em jogo: as despesas previstas no Orçamento de 2021, a prorrogação ou não do estado de calamidade por mais um ano, a manutenção do auxílio emergencial e em que valor. Se o governo der respostas claras e consistentes a esses pontos, o estresse diminuirá — e muito.
Para grande parte dos economistas, muito provavelmente, o teto de gastos estourará no ano que vem entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões, valores perfeitamente administráveis dentro do Orçamento da União e porque gatilhos previstos em lei poderão ser acionados. Ou seja, será possível evitar o rompimento efetivo das despesas.
O problema, de verdade, será em 2022, ano eleitoral. É aí que a política entra de novo, pois Bolsonaro só pensa na reeleição. Ao explicitarem suas divergências, o presidente e o Guedes mexeram com o que há de pior entre os agentes econômicos: a desconfiança. Agora, precisam dar uma resposta rápida de que não estão dispostos a aventuras.
Brasília, 10h51min