A chance que Bolsonaro e Guedes perderam de ficar calados

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente Jair Bolsonaro perderam uma grande oportunidade de ficarem calados. Ao tornarem públicas suas divergências em torno da condução das contas públicas, em especial, do teto de gastos, deram uma dimensão exagerada ao tema e abriram espaço para que os aventureiros mostrassem a cara e os especuladores fizessem a festa.

Até o embate, que explicitou a fragilidade de Guedes dentro do governo, a preocupação dos agentes econômicos com a gastança federal estava sob total controle.

Entre os economistas mais otimistas e os menos confiantes ante os rumos do país, há poucas divergências na questão econômica. A percepção é de que o ritmo de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) está mais forte do que o esperado, a inflação está sob controle, os juros reais estão negativos e, de quebra, o mundo vem ajudando o país.

Portanto, a grande dúvida que paira sobre a cabeça de todos é política. E essa questão foi superdimensionada quando Bolsonaro sinalizou que já não estava mais fechado com seu Posto Ipiranga e começava a se pautar pelo grupo liderado pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, defensor da abertura dos cofres para investimentos em obras mirando as eleições de 2022.

Presidente e Bolsonaro mexeram com a confiança dos agentes econômicos

O que todos querem saber, agora, é se vai prevalecer a gestão responsável das contas públicas. Guedes é visto como símbolo dessa responsabilidade fiscal, mas não, necessariamente, significa que ele é intocável. Seja quem estiver no comando do Ministério da Economia, é importante o compromisso com o teto de gastos, pois há muita coisa em jogo: as despesas previstas no Orçamento de 2021, a prorrogação ou não do estado de calamidade por mais um ano, a manutenção do auxílio emergencial e em que valor. Se o governo der respostas claras e consistentes a esses pontos, o estresse diminuirá — e muito.

Para grande parte dos economistas, muito provavelmente, o teto de gastos estourará no ano que vem entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões, valores perfeitamente administráveis dentro do Orçamento da União e porque gatilhos previstos em lei poderão ser acionados. Ou seja, será possível evitar o rompimento efetivo das despesas.

O problema, de verdade, será em 2022, ano eleitoral. É aí que a política entra de novo, pois Bolsonaro só pensa na reeleição. Ao explicitarem suas divergências, o presidente e o Guedes mexeram com o que há de pior entre os agentes econômicos: a desconfiança. Agora, precisam dar uma resposta rápida de que não estão dispostos a aventuras.

Brasília, 10h51min

Vicente Nunes