2016 PERDIDO

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A forte deterioração da atividade está levando a previsões dramáticas para a economia. Não bastasse a contração maior do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, bancos e consultorias começam a consolidar a visão de que, também em 2016, o país registrará tombo. O clima entre empresários e investidores é de desânimo. Não há perspectiva de recuperação tão cedo, dadas a gravidade da recessão e a fragilidade do governo, que corre o risco de acabar mais cedo do que o determinado pelas urnas.

Maior banco privado do país, o Itaú Unibanco passou a prever retração de 2,2% para o PIB neste ano e de 0,2% em 2016. O que se vê, na avaliação de analistas da instituição, é um processo disseminado de redução da atividade. É difícil encontrar hoje um setor da economia que esteja crescendo e não tenha feito demissões. O quadro é tão dramático que, pelos cálculos de Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, já a partir do segundo trimestre do ano que vem, o Banco Central será obrigado a cortar juros para reanimar a atividade.

As projeções de Ilan são de que a taxa básica de juros (Selic) deve subir mais 0,5 ponto percentual no fim deste mês, para 14,25% ao ano, dentro do compromisso do BC de retomar o controle das expectativas. Ele não descarta, porém, elevação de apenas 0,25 ponto, com o Comitê de Política Monetária (Copom) indicando o fim do arrocho. No entender dele, quando os juros começarem a cair, é possível que atinja até 11,25% anuais.

Para o economista do Itaú, a redução dos juros em 2016 será possível porque a inflação cederá com força, de 9,1% neste ano para 5,3% no exercício seguinte. Em 2017, cravará o centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%. Além de os preços livres, sobre os quais os juros têm forte impacto, apontarem aumentos menores, não haverá a pressão dos preços administrados que se viu neste ano, com a energia elétrica subindo quase 50%.

Salvação

Na opinião de Flávio Serrano, economista sênior do Besi Investimentos, o governo será fator determinante para definir até onde irá a recessão do país. Quanto mais frágil a presidente Dilma Rousseff se mostrar e quanto mais demorada for a aprovação da reforma tributária proposta pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mais demorada será a volta da confiança necessária para a retomada dos investimentos. São eles que determinarão o ritmo de crescimento da economia nos próximos anos.

A reação do governo vale, inclusive, para o mercado de trabalho, que está perdendo força numa velocidade impressionante. De nada adiantarão paliativos como o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), se a destruição da economia não for revertida o quanto antes. Demitir no Brasil custa caro. Por isso, as empresas adiaram o quanto puderam a onda de cortes. Mas com faturamento em queda e estoques elevados, as contas não fecham. O fechamento de vagas continuará acelerado, jogando o consumo das famílias para o buraco.

Serrano acredita que, na melhor das hipóteses, a economia voltará a dar sinais positivos em meados de 2016. Mas nada que seja motivo de comemoração. Com os ajustes que se vê no mercado de trabalho, os salários estão caindo, o que, futuramente, contribuirá para uma produtividade maior das empresas. Também o dólar mais caro tenderá a favorecer as exportações. Tudo isso, por enquanto, é mais desejo do que realidade. Contudo, num quadro tão ruim, é melhor se apegar à esperança do que jogar de vez a toalha. O Brasil, felizmente, ainda tem salvação.

Banco digital

» O Banco Original, do grupo JBS, está pronto para se lançar como o primeiro banco totalmente digital do país, seguindo o modelo norte-americano de simple bank. A meta é botar o bloco na rua até o fim do ano.

Desânimo geral

» Dentro do governo, ninguém acredita em avanços na cúpula do Mercosul, que começa hoje. O bloco econômico está destroçado, combinando inflação alta e recessão em três países membros: Brasil, Argentina e Venezuela.

Disputa aberta

» Joaquim Levy, da Fazenda, e Nelson Barbosa, do Planejamento, vêm tentando manter a boa convivência dentro do governo, apesar da disputa aberta entre os dois para ver quem fala mais grosso na área econômica.

Pressão em subalternos

» O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) reclama da interferência da diretoria da instituição nas negociações salariais dos servidores com o governo. Os sindicalistas dizem que o comando do BC reuniu chefes de departamentos e cobrou deles que convençam seus subalternos a aceitarem a proposta de reajuste de 21,3% até 2019, proposta pelo Planejamento.

Liberdade de expressão

» Diante da queixa do Sinal, uma comissão escalada pelo BC para negociar com os funcionários afirmou, em nota, que em momento algum sugeriu a aprovação do reajuste apresentado pelo governo. “A recomendação foi no sentido de que os chefes de unidades dessem amplas condições para que os servidores participassem livremente das assembleias.”

Brasília, 10h01min

Vicente Nunes