Vacina CFM lança pesquisa com médicos sobre inclusão de vacina contra a covid para crianças no plano nacional de imunização. Foto: Ed Alves/CB/D.A Press

135 crianças morrem de covid em 2023. CFM levanta dúvidas sobre vacina

Publicado em Economia

Dados do Ministério da Saúde apontam que 135 crianças morreram de covid-19 em 2023 no Brasil, a maioria sem vacina. Esse número, segundo Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI), pode parecer pequeno, mas é uma estatística devastadora, “ainda mais quando fazemos o exercício de imaginar que uma dessas 135 crianças poderia ser nosso filho, nossa filha, ou um de nossos netos”.

 

A médica usou esse número terrível a fim de chamar a atenção para mais um dos absurdos cometidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que, desde sempre, se posicionou contra a imunização contra o novo coronavírus. Nem mesmo as mais de 700 mil mortes pela covid-19 foram capazes de sensibilizar os dirigentes da entidade.

 

O CFM, sabe-se, está dominado por uma ala negacionista, e, sem qualquer justificativa plausível, decidiu fazer uma pesquisa para que os profissionais da saúde opinem sobre a inclusão da vacina contra a covid no calendário de imunização infantil, como decidiu, sabiamente, o Ministério da Saúde.

 

Na visão de Ballalai, que se expressou por meio das redes sociais, é inacreditável que uma entidade que deveria incentivar a proteção de toda a população, sobretudo as crianças, lance esse tipo de questionamento, que só alimenta o discurso de quem nega a ciência.

 

Vacinas salvam vidas

 

Ela ressalta que recebeu a pesquisa do CFM com surpresa, assim como todos os médicos que prezam pela vida. “Pela primeira vez, isso é visto, e, infelizmente, dá a entender para muita gente, que já tem muita dúvida, que a vacina contra a covid é diferente das outras”, diz.

 

Para a diretora da SBI, é preciso deixar claro que a  vacina contra o novo coronavírus, que continua circulando livremente, não é diferente das outras. “Como todas as vacinas do calendário infantil, ela é importante, pois evita mortes e hospitalizações”, afirma.

 

Segundo Ballalai, desde 2022, enquanto a tendência de aumento de casos de covid diminuiu entre adultos e idosos, nos menores de cinco anos e, principalmente, nos menores de um ano, o número de infecções só cresceu. “Não só em termos de casos, mas, especialmente, de hospitalizações e mortes”, frisa.

 

Sendo assim, diz a imunologista, todas as sociedades médicas vêm se manifestando, tentando entender junto ao CFM o porquê de uma pesquisa dessa natureza. Ela diz não se lembrar de pediatras terem recebido do Conselho uma pesquisa para decidir sobre determinado material ou tratamento em outras áreas da medicina.

 

“Não me lembro de ter sido consultada. A decisão de incluir ou não a vacinação no calendário é de saúde pública. Nós, médicos, temos, sim, o direito e a obrigação de questionar. Mas a vacina não é questionável. E a decisão de saúde pública de incluí-la no calendário não cabe ao CFM e muito menos a nós, médicos”, assinala.

 

É difícil ver uma criança morrer

 

Ballalai diz mais: “É inacreditável esse posicionamento, com tantos dados oficiais e literatura médica baseada em evidências disponíveis, que mostram que a vacina contra a covid não causou nenhuma morte infantil em nenhum lugar do mundo, enquanto 135 crianças morreram em 2023 devido à doença”, destaca.

 

No entender dela, é importante lembrar que, em relação à meningite, por exemplo, somando crianças, adultos e todas as faixas etárias, são cerca de 350 mortes por ano pela doença. “A vacina meningocócica é uma das mais procuradas pelas famílias, entendendo o quanto é duro ver uma criança morrer, seja por qualquer doença, principalmente, quando ela pode ser evitada”, acrescenta.

 

A médica ressalta que, seja qual for o resultado da inaceitável pesquisa realizada pelo CFM, nada vai alterar a decisão da saúde pública de manter a vacina contra a covid no programa nacional de imunização.

 

“Portanto, a pesquisa fica como uma ferramenta que apenas vai gerar mais dúvidas em relação à segurança e à recomendação da vacina contra a covid para crianças em um ambiente em que sabemos, infelizmente, é grande a quantidade de médicos que vêm buscando destruir a confiança dos pais em um imunizante tão importante para eles e seguro, claro”, conclui.