O penta ficou para depois é o título do livro que Iugh Mattar, mestre em história pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, lançou recentemente. Na obra, escrita originalmente como dissertação de mestrado, o autor ao analisar a Copa do Mundo de 1998, a tratou não apenas como um simples evento esportivo, mostrando-a sob vários aspectos, por considerá-la um divisor de águas na história do torneio, com características que moldaram os mundiais do século 21.
“Aquela Copa marcou o fim da Era Havelange (1974/1998) à frente da Fifa, com o aumento de países participantes, saltando de 24 para 32 e a introdução das novas arenas, no padrão da entidade promotora. Foi a primeira competição do gênero com o uso da internet, da globalização, que teve o poder econômico presente, como nunca visto antes”, ressalta Mattar, que para realizar seu trabalho se valeu de exaustivas pesquisas em órgãos de imprensa da época — jornais, revistas e emissoras de televisão.
Com a visão de historiador, Iugh Mattar escolheu a derrota da Seleção Brasileira para a Francesa, na decisão da Copa como foco principal do livro e justifica: “As derrotas interessam mais do que as vitórias, na medida que o fracasso suscita nos textos da imprensa e nas explicações da população um sentimento de inferioridade social e política do país, como ocorreu também como o Maracanazzo, em 1950 e no 7 x 1, na partida com a Alemanha, na Copa de 2014”, destaca o autor que é criador do projeto Futebol Coruja e atua pelas redes sociais do Instagram e YouTube, utilizando o futebol como um instrumento pedagógico e de informação histórica e jornalística.
Dividido em três capítulos, o texto de O penta ficou para depois, ocupa 226 páginas. Nos dois primeiros, Mattar faz análises das inter-relações entre a mídia, as identidades brasileiras, apresentando o imaginário de uma nação brasileira hierarquizada e autoritária, “que produzia desigualdades, injustiças sociais”, ao descrever as partidas da seleção em cada etapa. O último é totalmente dedicado à partida final e ao maior enigma da derrota: “a tragédia shakesperiana de Ronaldo Fenômeno”.
Bernardo Buarque de Hollanda, professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, em trecho do aprofundado prefácio questiona “A Copa do Mundo é uma competição em que cada indivíduo corporifica o orgulho nacional defronte outro, sendo assim, ela é importante observatório dos variados dispositivos culturais? Toda partida revela os elementos simbólicos da própria sociedade?”. A respeito da análise feita por Iugh Mattar na obra ele observa: ” Um julgamento foi estabelecido para encontrar algum culpado, e, diante disso discorremos como que o herói do Brasil conseguiu ser absolvido nessa Copa do Mundo de 1998, que pôs em xeque sua nacionalidade pelo fenômeno da globalização midiática”.
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