Músicas como antídoto na pandemia

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Os mais diferentes assuntos se transformam em fonte de inspiração para os artistas brasileiros. A criatividade deles os leva a ter como tema de obras até algo tão sombrio quanto a pandemia que assola o mundo. A cantora e compositora Adriana Calcanhotto, por exemplo, lançou o álbum intitulado , para o qual concebeu, nesse período de isolamento social, uma série de músicas. No trecho de O que temos diz: “Deixa eu te espiar/ Finge que não vê/ O que temos são janelas/ Em tempo de quarentena/ Nas sacadas, nos sobrados/ Nós estamos amontoados e sós/ O que temos são janelas e panelas…”

Em tempos mais amenos — ou não — canções de louvor, de protesto ou com base na constatação de fatos, músicas foram criadas por grandes compositores, de estilos variados, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Renato Russo, Lulu Santos, Guilherme Arantes, Lenine, Xande de Pilares, Vitor Kley, Michael Sullivan e Paulo Massadas, que servem de antídoto para o tempo do “novo normal”. As letras trazem mensagens positivas, e, propositalmente, foram reunidas aqui, com o intuito de despertar em quem vive “enclausurado”, o sentimento de esperança e a expectativa de que tudo passará e de que dias melhores virão.

Apesar de você — Composta por Chico Buarque, Apesar de você foi gravada inicialmente num compacto e depois no LP com o nome do artista e intelectual carioca, lançado em 1978, durante a ditadura militar, tendo execução radiofônica proibida pela Censura Federal. Verso da letra diz: “Apesar de você/ Amanhã há de ser outro dia/ Eu pergunto a você onde vai se esconder/ Da enorme euforia..” Tudo a ver com o vírus que se espalha pelo país.

Andar com fé — No LP Um banda um, de 1982, que trazia canções como Drão e Esotérico, o eterno tropicalista Gilberto Gil incluiu também Andar com fé, em que cantava: “Andar com fé eu vou/ A fé não costuma faiá…” O título desse reggae, regravado pela banda mineira Skank em 2015, no álbum-coletânea Rock in Rio — 30 Anos, embora tenha significado religioso, remete a uma expressão popular de apoio motivacional para o ser humano. Tão necessário para o tempo de de covid-19.

Nada será como antes — “Que notícias me dão dos amigos/ Que notícias me dão de você/Sei que nada será como antes amanhã”. Clássico da obra de Milton Nascimento, Nada será como antes tem letra de Ronaldo Bastos — escrita no período dos anos de chumbo –, que chamava atenção para os “desaparecidos” e para o que viria pós-redemocratização. Agora, pode ser ouvida quando todos sonham com o fim da pandemia. Milton a gravou no disco Minas, de 1975, lançado simultaneamente com o Geraes. Nada será como antes deu título também a um musical criado pelos encenadores Charles Moöler e Cláudio Botelho, em homenagem ao cantor e compositor carioca-mineiro e apresentado com sucesso entre 2017 e 2018.

A Cura — Em Toda forma de amor, disco lançado em 1988, Lulu Santos registrou A Cura, composta no período em que havia a disseminação do HIV. Em parte da letra, de forma objetiva e otimista, ele acentua: “Desafiando de vez a noção/ Na qual se crê que o o inferno é aqui/Existirá e toda raça então experimentará/Para todo mal, a cura”. É o que todos esperam em tempo de covid-19.

Paciência — De forma visionária,como que antecipando o que iria ocorrer 11 anos depois, Lenine compôs Paciência que foi gravada no CD Na pressão. Num dos versos, o cantor e compositor pernambucano escreveu: “Enquanto todo mundo espera a cura do mal/ E a loucura finge que isso tudo é normal/ Eu finjo ter paciência”. A música tem sido ouvida ultimamente na televisão em mensagens institucionais, fazendo alusão a tempos melhores.

Amanhã — Dono de uma extensa obra, no cenário da música pop nacional, Guilherme Arantes lançou incontáveis hits. Um deles é Amanhã, registrado no LP Onda noturna, de 1977, regravada por Caetano veloso, nove anos após, no álbum ao vivo Totalmente demais. Como se tivesse sido feita para o quem espera o que virá pós-coronavírus, a letra, logo na abertura traz esse verso: “Amanhã/ Será um lindo dia/ Da mais louca alegria/ Que se possa imaginar…”

Quando o sol bater na janela do seu quarto — Para o álbum Quatro Estações, de 1989, um dos últimos gravados em estúdio pela Legião Urbana, que trazia futuros clássicos como Há tempos e Pais e filhos, Renato Russo compôs Quando o sol bater na janela do seu quarto. Mesmo já com a saúde fragilizada, ele, dubiamente cáustico e otimista, escreveu na letra dessa canção: “…A humanidade é desumana, mas ainda tem chance/ O sol nasce para todos/Só não sabe quem não quer…”. Espera-se que a mensagem, principalmente nesse período tão melancólico, seja bem assimilada.

O sol — Uma das boas revelações da música popular brasileira, o cantor e compositor gaúcho Vitor Kley é autor e intérprete de O sol, gravada no CD Adrenalizou, de 2018, um dos maiores sucessos do dos últimos anos do segmento pop. De forma leve e pra cima ele canta: “Ô sol/ Vê se não me esquece e me ilumina/ Preciso de você aqui/ Ô sol vê se enriquece a minha melanina/ Só você me faz sorrir”. Quem não espera por isso, depois de quase três meses de quarentena.

Tá escrito — Um dos compositores e cantores de maior destaque do pagode, autor de sambas-enredo da Salgueiro, Xande de Pilares fez em 2009 Tá escrito. De maneira positiva ele sugere na letra: “Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé/ Mande a tristeza embora/ Basta acreditar que um novo dia vai raiar…” É o que todo mundo torce para que aconteça depois da maldita pandemia.

Irlam Rocha

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