“O tambor traz em si uma poética ancestral que conecta muitas dimensões da formação de nosso povo e da identidade que construímos através dele. Unir poesia, música, imagem e pensamento em torno de algo tão simbólico nos leva para um lugar especial e necessário nesse momento de nossa história”. Essa reflexão tem como autor Tiganá Santana, artista baiano que musicou o poema Canto para atabaque, escrito pelo escritor e político baiano Carlos Marighella, personagem do longa-metragem dirigido por Wagner Moura, que retrata a luta do guerrilheiro contra a ditadura militar, no final da década de 1960. Mesmo cercado de polêmicas, Marighella, considerado o filme do ano no Brasil, tem levado muita gente às salas de cinema — inclusive em Brasília, onde se mantém em cartaz.
Quanto ao poema, ele chegou a Tiganá pelas mãos de Maria Marighela, neta do revolucionário personagem, em 2019. O instrumentista, então, convidou Sebastião Notino e o Baiana System para juntos construírem os arranjos e a interpretarem. Por conta da pandemia do coronavírus, o processo foi interrompido, sendo retomado no segundo semestre deste ano. Em 5 de dezembro, quando Marighella completaria 110 anos de nascimento, a canção foi lançada nas plataformas digitais e, desde então, ecoa da Bahia para o mundo.
A percussão conduz toda a canção. Seguindo a tradição, o arranjo feito por Ícaro Sá ao lado de Sebastian, utiliza três atabaques — Rum, Rumpi e Lé, junto com agogô, xequerê e caxixi, num toque de barravento, da tradição do candomblé de Angola. A ritmologia deu a linha do arranjo de base, feito por Russo Passapusso e SekoBas, com grande referência do reggae. Russo desenha os vocais ao lado de Tiaganá, encaminhando para uma Bahia ainda mais profunda. Além disso, a guitarra baiana de Roberto Barreto, instrumento criado nos anos 1950, com grande identidade local.
Para ilustrar esse canto, Cartaxo, responsável pelo visual do BaianaSystem, convidou Pedro Marighella (neto de Carlos), com quem já havia trabalhado em outros projetos ligados à música e artes visuais. Pedro tem um elogiado trabalho em artes plásticas, design e música, com forte ligação com a cultura e suas relações entre política, entretenimento e mercado. Canto para atabaque vem para celebrar, conectar, transcender e aproximar as dimensões humanas e, por meio da arte e reforçar o combate ao racismo religioso. Um dos trechos do poema diz: “O Brasil é mestiço/ Mistura de índio, de negro, de branco/ De escravo com escrava/ Com banzo, sem banzo/ Mas lá na senzala/ O filão do Brasil/ Veio de lá da África.
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