Artigo: Palcos brasilienses

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Cássia Eller, Rosa Passos e Zélia Duncan são cantoras que iniciaram a carreira em casas noturnas brasilienses, antes de chegarem ao estrelato. Instrumentistas como Jorge Helder, Hamilton de Holanda, André Vasconcellos e Pedro Martins, hoje consagrados nacional e internacionalmente, começaram a se destacar tocando em bares e restaurantes da cidade. Entre os anos 1980 e 2000 nestes estabelecimentos comerciais proliferaram palcos para a música na capital.

Quase nenhum deles conseguiu manter as portas abertas, reduzindo drasticamente os espaços para os artistas locais, assim como para os de outras regiões do país, que costumam vir aqui, mostrar seus trabalhos. Hoje em dia são poucos os lugares onde se pode apreciar música ao vivo no DF – e a culpa não é apenas da interminável pandemia que assola o país e o mundo. Quem investe nesse segmento elenca alguns fatores que são determinantes para deixarem de funcionar. Os mais recorrentes são a crise econômica e o rigor da Lei do Silêncio.

Em outros tempos podia-se curtir shows e recitais em locais que hoje fazem parte do imaginário de muita gente. Como esquecer o Gate’s Pub, (fechado em 2015), que manteve-se por mais de 30 anos e, sob o comando de Rubens Carvalho e Sérgio Rezende, promoveu projetos temáticos e apresentou shows memoráveis. A lista é grande, e inclui os de Tom Zé, Jards Macalé, Itamar Assumpção, Victor Biglione e Andy Summers (guitarrista do The Police) e da banda franco espanhola Mano Negra. Obviamente, por lá passaram também a chamada prata da casa, representada por, entre outros, o cantor e compositor Beto Só, o grupo BSB Disco Club e as bandas Little Quail, Mata Hari e Phonopop.

Crédito: Jorge Cardoso/CB/D.A Press. Itamar Assunção (em pé), ao lado de Jards Macalé, durante apresentação no Gate’s Pub

Marcaram época o Bom Demais (706 Norte), que revelou Cássia Eller para a música brasileira, recebeu Renato Russo – já famoso – para fazer show na madrugada, cantando Beatles; e acolheu o Raimundos em início de carreira; o Amigos (105 Norte), onde Rosa Passos e Zélia Duncan, cumpriram longas temporadas, antes de serem aplaudidas no Brasil e no exterior como grandes intérpretes; e o Chorão (302 Norte), que tinha como atração Ângela Regina, cantora com mais tempo na cena artística brasiliense.

Além delas, houve várias outras casas que nas décadas de 1980, 1990 e 2000 também se tornaram palcos para a música, entre as quais Bar Academia, Bar Doce Bar, Caras & Coroas, Degraus, Flor Amorosa, Mistura Fina, Otello, Tarrafas e Woodstock, na Asa Norte; Cavaquinho, London Tavern e Odara, na Asa Sul.

Outro Calaf (Setor Bancário Sul), Bar Brahma (201 Sul), Pinella (408 Norte), Café Musical do Clube do Choro (Eixo Monumental), Primeiro Bar (Setor de Indústrias Gráficas) e Dolce Far Niente, no Sudoeste e em Águas Claras, estão entre os lugares onde, atualmente, os cantores e músicos candangos continuam a ter vez e voz. Com o retorno do Velvet Club, na 102 Norte, a torcida é para que o Feitiço Mineiro, na 306 Norte, com portas cerradas desde março último, por causa da covid-19, retome as atividades – mesmo sob nova direção.

Confira artigo publicado nesta segunda-feira (9/11) no Correio Braziliense.

Irlam Rocha

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