Depois do sucesso com Bird box estrelado por Sandra Bullock, a Netflix apresentou a nova aposta para longa-metragem: Velvet buzzsaw. A produção, estrelada por Jake Gyllenhaal, é uma mistura heterogênea de um thriller superficial com tom bem acertado de comédia. O filme, é importante apontar, conta com astros de Hollywood, como Rene Russo, Toni Collette e John Malkovich, sem contar no protagonista, vencedor do Oscar.
No enredo — dirigido por Dan Gilroy (que também escreveu o roteiro) — o público pode acompanhar uma história ousada: obras de artes que matam as pessoas. Mas vamos com calma. O que ocorre é uma espécie de possessão pelos trabalhos visuais de um espírito maligno do criador das obras. Ventril Dease (Alan Mandell) foi uma pessoa que sofreu muito na vida, desde os abusos dos pais até a internação por loucura, mas sempre com uma dedicação mórbida à pintura de quadros.
Após a morte de Dease, Josephina (Zawe Ashton) encontra os trabalhos do “gênio maluco” — que são extremamente belos — e decide, com a curadora Rhodora (Rene Russo), vendê-los. Devido à alta qualidade, as obras são um extremo sucesso de público e crítica. Na ânsia pelo dinheiro, ambas não percebem, entretanto, que existe algo muito errado com os trabalhos: eles matam pessoas.
A premissa é simples, os quadros ou esculturas ganham vida (no caso os personagens dentro dos quadros e representados pelas esculturas) e atacam os “donos” de forma brutal. Dentro desse contexto se encontra Morf (Gyllenhaal), um crítico de arte contemporânea muito importante e respeitado. Mesmo com uma excelente atuação de Gyllenhaal, o personagem parece profundamente deslocado da história — pelo menos até a metade da trama, que é quando Morf percebe que são os trabalhos que podem estar causando tantas mortes no mundo das artes, e, então, decide tentar expor aqueles “monstros”.
Começando pelo pé direito, vale muito reforçar duas qualidades da produção: a atuação e o tom sarcástico. Todos os atores (mesmo os mais novos, como Natalia Dyer) parecem realmente engajados em fazer os personagens funcionarem. E isso de fato ocorre, especialmente se analisado o tom crítico que a produção apresenta à arte contemporânea — e capitalista.
Isso é um dos trunfos do longa. Todas as piadas — extremamente ácidas — a um mercado artístico podre que só busca retorno monetário e status social são primorosas. O fato de os personagens saberem o quão estúpidos são, e como conscientemente colocam o artista no último degrau de uma escada de arrogância é, de certa forma, inovadora e muito inteligente. Para quem assiste, também é revoltante.
Para os fãs de televisão, vale fazer um paralelo com as produções de Ryan Murphy. Aqueles diálogos rápidos, assépticos e assertivos (sempre em tom de crítica) são uma referência já vista em produções como American horror story, Glee e, especialmente, Nip/Tuck.
De negativo, entretanto, fica um ponto chave: a construção narrativa truncada. O filme não empolga muito e o andamento é difícil e lento. O plot óbvio (da “arte” assassina) é tratado com uma importância que não corresponde ao que de fato é apresentado. Passam-se cenas e cenas com diálogos vazios, que não fazem a história andar, que forçam o espectador a dar uma espiadinha nas redes sociais ao mesmo tempo em que assiste.
Para piorar, os sustos bem que poderiam tem um trabalho melhor. No fim das contas, alguns são tão óbvios e previsíveis que diminuem a capacidade de empolgação que o filme poderia apresentar.
Em síntese, é uma produção com boas atuações e uma interessante abordagem da arte contemporânea, contudo, não é uma história bem-feita e peca em construção e desenvolvimento.
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