Em destaque em duas novelas da Globo atualmente, os casais homoafetivos ganham tratamento diferentes nas tramas. Em Orgulho e paixão, o autor Marcos Bernstein e o diretor Fred Mayrink optaram pela delicadeza ao retratar o namoro de Luccino (Juliano Laham ー leia entrevista com ator) e Otávio (Pedro Henrique Müller). Por outro lado, João Emanuel Carneiro e Dennis Carvalho iniciaram uma discussão interessante em Segundo sol, com Maura (Nanda Costa) e Selma (Carol Fazu), mas deram para trás e agora parecem querer falar em “cura gay”. Descaso e falta de sensibilidade definiriam.
Curioso notar que Orgulho e paixão é uma novela de época e Segundo sol, uma trama contemporânea. Sendo assim, era mais fácil de aceitar que a primeira tratasse a homossexualidade de Luccino e Otávio como uma “aberração” ou como uma “doença” que precisa de tratamento e é passível de cura. Mas não. Foi ali que tivemos uma bela cena em que Luccino conta ao irmão, Ernesto (Rodrigo Simas), que está apaixonado por Otávio.
A vida do casal não é um mar de rosas ー está longe disso. O pai de Luccino, Gaetano (Jairo Mattos), expulsou o filho de casa por não aceitar o namoro dos dois. Mas a maioria dos personagens que sabem do relacionamento, apoiam Luccino e Otávio, que enfrentam uma realidade muito mais próxima do século 21. Está prevista para esta semana uma cena em que os dois se declaram apaixonados, após Gaetano morrer.
A linha seguida em Segundo sol para a trama de Selma e Maura é exatamente inversa à de Orgulho e paixão. As meninas namoravam às escondidas até o marido de Selma morrer. Depois, elas assumiram o namoro, foram morar juntas, enfrentaram o preconceito do pai de Maura, Agenor (Roberto Bomfim), conquistaram o apoio de Rosa (Letícia Colin) e de Nice (Kelzy Ecard), irmã e mãe de Maura, respectivamente.
No auge da maturidade, o casal de Segundo sol começou a discutir a possibilidade de ter um filho. As alternativas, como adoção ou inseminação artificial, foram levantadas, levando ao público uma boa dose de informação, importante arma contra o preconceito. Até que elas decidem pela inseminação artificial e que o doador seria Ionan (Armando Babaioff – leia entrevista com o ator), colega de trabalho de Maura.
Aí começa o problema. Maura diz várias vezes que não se relacionaria com um homem. Mas brota em Selma uma pontinha de ciúmes. Infundado? Nem tanto… Maura e Ionan, do nada, começam a se interessar um pelo outro, trocam beijos e provavelmente chegarão às juras de amor. Desserviço total uma trama em horário nobre não se dar ao respeito de tratar o amor das duas mulheres com a atenção e beleza que o assunto merece. Ainda dá tempo de João Emanuel Carneiro se redimir e reatar o casal, ou pelo menos, deixar as meninas lésbicas. Para preconceito como esse, há cura!
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