Produções sobre música, na ficção ou não, acabam nos levando a ouvir novelas, séries e documentários com mais atenção. Aumenta o som!
A música e a televisão sempre estiveram de mãos dadas, na era dos festivais, em programas de auditório e em outros momentos importantes. Atualmente, são duas as vertentes mais fortes: Personagens de séries e novelas que se expressam por meio de canções e docudramas ou documentários sobre estrelas musicais.
A presença do funk paulista é tão forte na aclamada Sintonia, série nacional de Kondzilla para a Netflix, que podemos dizer que o gênero musical é quase um protagonista da produção. Ao lado da religiosidade e da violência, o funk é o tripé que sustenta a trama que retrata a juventude que mora nas favelas de São Paulo.
“Cada vez mais falamos de representatividade. E não adianta só falar e na prática nada acontecer. Recebo muitas mensagens de pessoas que reconhecem suas histórias, as de seus amigos, familiares, vizinhos na série. Num momento de trevas, você se vê na tela, se reconhecer, é quase um grito de resistência”, afirma Bruna Mascarenhas, atriz que dá vida a Rita na série, em entrevista ao Próximo Capítulo.
A voz desses personagens é posta nas letras dos funks compostos por Doni (Jottapê), um dos melhores amigos de Rita. Para Bruna, que entre a MPB da mãe e a música clássica do pai, ouvia o funk carioca na adolescência, o gênero é mais do que a voz da periferia: “Temos que aceitar o funk igualmente como qualquer outro estilo. Faz parte do Brasil!”
Curiosamente, também é o funk que dá as caras na trama de Malhação – Toda forma de amar. Amigas de infância até então inseparáveis, Raíssa (Dora de Assis) e Nanda (Gabriella Mustafá) se enfrentam no reality fictício Vai no gás. Na competição, as duas abusam da batida do funk carioca e levam mais ritmo à novelinha teen.
Interessante notar que, assim como o Doni de Sintonia, Raíssa canta músicas autorais, além de letras de Camelo (Ronald Sotto), namorado dela e ex de Nanda. “Tem sido um processo muito intenso. Além de estar preparada, ainda preciso trabalhar o emocional da Raíssa, o medo de se expor, a timidez, e também a ousadia, o desprendimento, a descoberta. Precisei aprender a confiar em mim, assim como ela”, conta Dora de Assis, em material de divulgação da novela. Ainda está previsto que o Vai no gás leve Raíssa e Nanda ao palco do Rock in Rio.
A maior referência em Bom Sucesso, novela das 19h da Globo, é a literatura. Mas isso não quer dizer que a música fique de fora. Luan (Igor Fernandez), por exemplo, é adepto do slam, uma espécie de rap moderno, juntando poesia, música e performance. O adolescente expressa seu amor por Alice (Bruna Inocêncio) e suas angústias por meio das rimas.
Em entrevista ao Próximo Capítulo, Igor conta que recebeu o auxílio de MC Martina para compor esse lado de Luan. Ela levou o ator para o metrô para rimar, de improviso, como fazem mesmo os artistas do slam.
“Suei frio, senti medo, travei algumas vezes sem que o público percebesse, mas no final das contas foi uma das partes mais divertidas e emocionantes do meu processo de preparação. Isso me ajudou bastante a ter uma base real para compor o Luan. Antes de ele chegar eu sequer tinha conhecimento desse universo, e como eu sempre fui muito envolvido com o balé, minha playlist só tinha música clássica. O envolvimento foi tanto que hoje em dia ouço com muito prazer diversos rappers brasileiros, me apaixonei, são poesias em forma de música. Eu sinto algo no rap que não costumava sentir em outros estilos musicais, que é geralmente um desabafo social verdadeiro, sofrido, mas muito necessário”, afirma Igor.
Divas da música
Com um pé na realidade, verdadeiras divas da música brasileira atual estrelam duas produções disponíveis em catálogos do streaming. Marília Mendonça está em Todos os cantos, que estreou na última sexta-feira no GloboPlay; e Anitta brilha em Vai Anitta, série documental da Netflix.
Marília Mendonça – Todos os cantos traz o registro dos bastidores do projeto Todos os cantos, da sertaneja. Em quatro episódios, a primeira série documental da plataforma de streaming retrata desde a concepção do show a momentos de intimidade de Marília com a equipe e com o público. A reação da plateia que recebe o show, apresentado de surpresa, também merece registro. Vale lembrar que o projeto Todos os cantos passou por Brasília, levando muita gente à Torre de TV.
“Sonhei com esse projeto! Literalmente sonhei que estava em uma praça cantando para algumas pessoas; conversei com a minha produção e embarcamos nessa aventura viabilizando os shows em todas as cidades” diz a cantora em material de divulgação da série.
Desde novembro do ano passado, a Netflix tem em seu catálogo Vai Anitta, série na qual o público pode acompanhar os bastidores da vida da funkeira em seis episódios. O sucesso foi tão grande que o serviço de streaming anunciou a segunda temporada.
Na produção, vemos Anitta desde o início da carreira, ainda à frente do Furacão 2000, até chegar à carreira internacional, em 2017. O diferencial é que, em Vai Anitta, o foco está nos bastidores, no que está por trás do que é mostrado ao público em shows e DVDs.
As cenas musicais são entremeadas por depoimentos, como o do ex-marido Thiago Magalhães, da família e de amigos dos tempos de Honório Gurgel, subúrbio carioca onde a cantora cresceu e deu os primeiros passos na carreira.
Algumas novelas e séries em que a música tinha importância
Glee – Foram seis temporadas entre 2009 e 2015. Nesse tempo, os telespectadores acompanhavam amores e confusões de adolescentes, sempre embalados por números musicais que poderiam estar no palco da Broadway. A série ganhou 4 Globos de Ouro e 6 Emmys.
Cheias de charme – Era difícil resistir aos encantos de Maria Aparecida (Isabelle Drummond), Maria da Penha (Taís Araújo) e Maria do Rosário, as empreguetes de Cheias de charme, novela de 2012. Com repertório próprio, elas gravaram até clipes e se apresentaram em programas da Globo, como o Esquenta e o Domingão do Faustão. A antagonista do trio também era cantora: Chayene (Claudia Abreu).
Rebeldes – A série mexicana de três temporadas alçou os protagonistas Anahí, Dulce María, Alfonso Herrera e Christopher Uckermann ao status de estrelas do pop em toda a América Latina. No Brasil, o SBT exibiu os capítulos entre agosto de 2005 e dezembro de 2006. Em março de 2011, a Record produziu uma versão brasileira para o sucesso mexicano, tendo no elenco, entre outros, Chay Suede, Arthur Aguiar e Sophia Abrahão.