Revelado em série sobre Chitãozinho & Xororó, no Globoplay, ator cuiabano que viveu produtor da dupla agora é da PF em ‘DNA do crime’, na Netflix
Patrick Selvatti
Quem assiste As aventuras de José e Durval, série original do Globoplay que conta a história da dupla Chitãozinho & Xororó, percebe, de cara, que não somente os irmãos Rodrigo e Felipe Simas protagonizam a trama. Presença constante ao lado da dupla na vida adulta, o empresário musical Homero tem um grande destaque na narrativa e chama a atenção para o seu intérprete.
Thiago Brianti, 28 anos, natural de Cuiabá, fez sua estreia na televisão já com um papel importante e teve a confirmação de que não agiu mal ao abandonar a carreira no direito para investir nas artes. Após o sucesso como o forte companheiro da dupla sertaneja no Globoplay, o ator emenda o segundo trabalho no streaming, agora em DNA do crime, considerada a maior produção brasileira da Netflix no Brasil, que estreia nesta terça-feira (14/11).
O cuiabano conta que foi uma criança lúdica, mais solitária, que criava histórias e tinha uma intuição de que poderia ser ator, mas não uma vontade. Em São Paulo, já adulto, teve o primeiro contato com o teatro. “Apaixonei e não parei mais”, conta Thiago, que se formou em interpretação, integrou uma companhia teatral e, em 2018, rodou algumas cidades brasileiras com um espetáculo ao lado de Eduardo Sterblich. Foi quando largou o direito de vez.
Do sotaque ao fumo
“Até 2019, eu só atuava nos palcos. Não era nem agenciado como ator. Mas existia o sonho de fazer cinema e fui em busca do audiovisual”, conta Brianti. Com a pandemia no meio do processo, em 2021, ele fez teste para a série do Globoplay. Pela sua origem, Thiago tinha um perfil parecido com o do personagem. “Cresci ouvindo sertanejo, ia para a fazenda, pessoas da minha família são envolvidas com o agro e isso ajudou muito”, afirma, em conversa exclusiva com o Próximo Capítulo.
O rapaz, entretanto, admite que deu uma caprichada maior para agradar. Carregou mais no sotaque, reforçou o R retroflexo e acabou virando referência para o elenco. “Não fiz aula de prosódia. Eu exagerei, mas tinha corpo e vivência. Para mim não era um lugar estranho essa proposta de tirar a música da poeira e levar para o asfalto. E alguns amigos até falam que parecia estar interpretando o meu pai”, acrescenta.
A composição de Homero, entretanto, não foi uma tarefa tão fácil. Primeiro porque o personagem que estava sendo retratado era real, mas não havia muita referência. Apesar de vivo, o empresário musical é uma pessoa discreta que não teve contato com a produção. “Ele teve uma importância gigante na trajetória de Chitãozinho & Xororó, então tivemos que deixá-lo mais dramatúrgico, quase que inventado, para o enredo funcionar”, revela.
O Homero da vida real, por exemplo, não fumava. Mas o personagem precisou ganhar esse elemento para a representação da sua ansiedade e do vício com a música. “Em uma entrevista, ele fala que a mulher dizia para parar, que ele estava bem-sucedido, mas ele não conseguia. Era como se fosse um vício. Ele estava no meio de algo incrível, mas que poderia não fazer bem e o cigarro foi inserido como um elemento que representa isso. Tanto que, em uma cena, ele comunica que vai parar de fumar em um momento em que o estresse atinge um ápice”, explica Thiago.
O fato de o personagem que a produção apresenta ser um fumante inveterado foi outro desafio para o ator estreante no audiovisual. Ao iniciar a jornada na série, Thiago Brianti decidiu que faria tudo com a maior verdade possível, mas o excesso de nicotina se tornou um problema. “Ainda que eu também fume, eu não consumo tantos cigarros e as dores de cabeça vieram com força. Teve uma cena gravada em um ônibus que precisou ser refeita algumas vezes e o cigarro do Homero estava lá o tempo todo. Foi tenso”, conta ele, que pediu para que o elemento fosse substituído por um cenográfico.
Sem estereótipo
Para viver Homero, Thiago — que tem 1,88m de altura e normalmente se mantém nos 83kg —conta que engordou 10kg. O físico logo retornou ao seu normal. No ano seguinte à gravação de As aventuras de José e Durval, o ator foi aprovado em outra série. Para DNA do crime, da Netflix, ele fez o teste duplo para um policial e um bandido. Acabou pegando o papel de um jovem policial federal, Guilherme, filho de um senador. “Apesar de ser mais urbano, a Polícia Federal é diversa e a origem do personagem não era definida. Então, não me preocupei em neutralizar o sotaque, para manter a diversidade regional. Fisicamente, sim, houve uma transformação: Guilherme é mais magro, usa gel para fixar o cabelo para trás, não tem barba nenhuma. Foi uma outra construção de corpo, de voz”, conta o cuiabano, lembrando que um agente da Polícia Federal não tem estereótipo, mas arquétipos, com corpos diversos.
Maior investimento no Brasil, DNA do crime é uma produção do gênero true crime, inspirada em um assalto real, ocorrido na divisa com o Paraguai, com armamento de guerra, um terror total. A PF brasileira assumiu o caso e utilizou o material genético para desvendá-lo. Para Thiago Brianti, o grande desafio agora foi atuar em um esquema de câmera realista, quase documental, com muita tensão psicológica envolvida.
“Faço tudo com muita verdade, mergulho nos personagens, então a minha preocupação foi com a sensação de perigo real. O personagem precisava ter uma tensão policial no corpo, e ele também tem um dilema específico, muito mais psicológico do que operacional, e eu tive de buscar caminhos artísticos para compô-lo. Um policial não sabe se volta para casa, e isso muda sua forma de ver o mundo”, finaliza.