Série do canal norte-americano USA, The sinner, aposta em uma trama simples, que carrega um suspense de qualidade
Suspenses são uma verdadeira roleta russa, principalmente, na televisão. As histórias precisam de um extremo cuidado, atenção aos detalhes e acima de tudo: um final claro (ficar enrolando simplesmente não funciona). Dentro desse contexto, a notícia boa é que a série The sinner, a nova aposta do canal norte-americano USA, apresentou um piloto que consegue dar conta de todos esses elementos.
O plot principal é absolutamente simples. Cora (Jessica Biel) é uma típica jovem mãe, que trabalha com o marido e o sogro, e leva uma vida normal, pelo menos até o dia em que, ao aproveitar uma manhã a beira do lago, decidi caminhar até um homem qualquer e esfaqueá-lo até a morte.
Com uma narrativa estrategicamente “arrastada”, os 40 minutos do primeiro episódio se desenrolam sem um grande clímax, mas isso é bom. Com o ritmo calmo, o público tem de lidar com o desesperador sentimento de que toda aquela história fica presa ao seu redor. Sem os bruscos planos em close, os giros de câmera, e aquelas clássicas trilhas sonoras (que vão aumentando o volume de acordo com passos em um corredor mal iluminado, tão comum ao gênero), a série mostra maturidade para desenvolver uma produção diferenciada, que realmente intriga o público e não só promove sustos superficiais.
O esfaqueamento a beira do lago é de fato o ponto alto do piloto, mas o contexto anterior e posterior ao evento também são pontos chaves, que prendem a atenção do telespectador de forma efetiva – a cena da conversa da jovem Cora com a mãe fanática e o bebê semimorto compõe uma criação brilhantemente repulsiva. Bill Pullman, mesmo tendo de interpretar um personagem imergido em clichês (como álcool e fetiches sexuais), promove boa atuação na pele do detetive Harry Ambrose, que sente no faro o quanto o assassinato foi mais do que um ataque psiquiátrico de uma dona de casa qualquer.
Sabemos que o passado está intimamente ligado as razões da morte e os detalhes das testemunhas são revelados de uma forma coerente e satisfatória (ninguém aguenta mais esses suspenses que têm resoluções mágicas). É importante acentuar também o – que eu espero ser – casamento de fachada que Cora vive com um marido, que prefere fugir das respostas que o assassinato trouxe ao lar. No fim do episódio é impossível não pensar: “o que aconteceu com essa mulher?”, “quem é o cara que ela matou?” e “por que ela matou?”. Um raro exemplo de produção que, de fato, leva em conta a participação do público e não só o entretenimento.
Comentários aleatórios (mas importantes!)
– É fundamental acentuar a excelente atuação de Jessica Biel, perfeitamente encaixada entre uma vítima e uma assassina.
– É muito estranho ver um personagem como o da sogra ser tão ignorado como ocorre em The sinner.
– Espero que no final não exista só a explicação de que Cora foi abusada pelo médico que ela matou, porque isso, acho que todo mundo já entendeu.