Depois das polêmicas das temporadas anteriores, 13 reasons why busca fórmula “certeira” da dramaturgia. O problema é que a série só consegue se esticar sem necessidade
Desde que foi lançada na Netflix 13 reasons why divide opiniões. Na primeira temporada, pela forma como retratou o suicídio de Hannah Baker (Katherine Langford) e tudo que o envolvia. Na segunda, foi acusada de chocar só pro chocar, por conta do enredo que envolvia Tyler (Devin Druid): o assédio sexual sofrido pelo personagem no banheiro da escola e quando ele aparece no último episódio armado ameaçando entrar no baile de primavera. Tendo isso como bagagem, o desafio de 13 reasons why em sua terceira temporada era grande. E, com o lançamento dos episódios na plataforma de streaming, já é possível dizer que o fardo pesou e de forma muito ruim para a nova leva de episódios.
A terceira temporada mostra exatamente os acontecimentos do final do segundo ano, quando Clay (Dylan Minnett) e Tony (Christian Navarro) resolvem, mais uma vez, salvar o dia — sem o auxílio de nenhum adulto — e interceder por Tyler. Clay consegue impedir o personagem de entrar atirando no baile de primavera, e depois, ao lado de Tony, dá um fim nas armas. E é a partir desse enredo que 13 reasons why começa sua história, colocando cada personagem em seu contexto após o fato, já que todos se uniram por conta da mentira contada para que Tyler não fosse culpado. Todos disseram se tratar de um engano e aceitaram ajudar no tratamento do menino.
Apesar de esse ser o início de 13 reasons why e de fazer parte da narrativa, o terceiro ano se debruça sobre um novo problema. Primeiramente a briga que acontece num jogo de futebol entre as escolas, seguida do desaparecimento e depois a confirmação da morte de Bryce (Justin Prentice), personagem que estuprou Hannah, Jessica (Alisha Boe) e tantas outras meninas do colégio Liberty High. Se baseando na fórmula muitas vezes certeira, mas já batida da dramaturgia, do “quem matou?”, 13 reasons why constrói sua narrativa. Para isso, apresenta uma nova personagem, que também narra os novos episódios: Ani Achola (Grace Saif), filha da enfermeira do avô de Bryce, com quem o personagem passa a morar na terceira temporada.
À primeira vista, a chegada da personagem pode animar, tirando 13 reasons why do ambiente da primeira temporada. No entanto, a função da personagem é um tanto estranha. A escolha por dar a narração a ela tem a ver com o fato de que, no terceiro ano, ela está envolvida com dois personagens-chaves: Bryce e Clay. Mas o jeito que a produção escolhe de dar desenvolvimento a essa narração é um erro.
Ani é um dedo que aponta cada hora a um personagem. Todo episódio, cabe a ela dar todos os motivos para que determinada pessoa seja a culpada pela morte de Bryce, para que, no episódio seguinte, isso mude completamente. Também é por Ani que a produção começa a montar a ideia de redenção da figura de Bryce, outro ponto um tanto forçado. E tudo isso acontece em episódios arrastados, repetitivos e em que a série insiste no erro de que os jovens resolvem todos os problemas sozinhos.
Já não bastasse isso, o final, com a resolução de quem matou Bryce, lembra os principais erros de outra série, How to get away with murder, em que os personagens culpam uma pessoa inocente, justificando ser algo “para o bem maior”. O terceiro ano de 13 reasons why serve só para irritar àqueles que sempre citam a série quando a Netflix cancela produções ótimas, como The OA. E o pior é que um quarto — pelo menos último — ano vem aí! Será que a série vai conseguir se redimir?