Teledramaturgia infantil, um desafio para as emissoras da tevê aberta

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Atualmente, apenas o SBT se dedica a fazer uma teledramaturgia infantil

Após estrear As aventuras de Poliana no último mês e já se preparar para a lançamento da série Z4 em julho, o SBT reafirma que as produções infantojuvenis fazem parte do carro-chefe da emissora, que também exibiu produções como Carinha de anjo, Carrossel e Chiquititas.

Entretanto, o que chama atenção é que o canal de Silvio Santos segue um “caminho solitário” no ramo da teledramaturgia infantil, já que as outras emissoras da tevê aberta deixaram esse tipo de conteúdo de lado, especialmente após 2014, com a Resolução n° 163 da Conanda (Conselho Nacional da Criança e do Adolescente), que trata sobre a publicidade para crianças na tevê e traz uma limitação para os canais.

A resolução é mais rígida do gênero e dificulta a publicidade e propaganda para o público infantojuvenil na tevê. Entenda os setes pontos de proibição: Uso de linguagem infantil, efeitos especiais e cores em excesso; uso de trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por crianças; representação de crianças nas propagandas; apresentação de pessoas que tenham apelo sobre o público infantil; uso de personagens ou apresentadores de programas infantis; uso de desenho animado, de bonecos ou similares; e promoções com distribuição de prêmios ou brindes colecionáveis, de competições ou de jogos com apelo ao público infantil.

André Luís Gomes, professor do Departamento de Teorias Literárias e Literatura da Universidade de Brasília (UnB), análise sobre esse mercado: “Eu acho que sempre há um impacto e preocupação com o mercado em um produto para televisão, seja voltado para as crianças, ou não. O importante é que o mercado estimule a produção e não interfira nos conteúdos, ou no sensacionalismo que a produção tente empreender para ganhar mais telespectadores”.

Gomes ainda sustenta que a falta de concorrência nas produções infantis na tevê brasileira atualmente é um erro, já que a teledramaturgia pode ter também uma influência positiva no público. “As novelas, séries, enfim, as produções de teledramaturgia infantil não podem ser vistas só com o lado ruim da perigosa publicidade infantil. Claro, isso pode existir, mas também são conteúdos que podem estimular a criança e o adolescente com essas questões mais didáticas, tentar usar o enredo para ensinar e educar de forma reflexiva e critica é possível, e deveria ser uma aposta das emissoras”.

Crédito: Reprodução/Observatório da Televisão – Um verdadeiro clássico da tevê, a novela ‘Chiquititas’ ultrapassou gerações

História

A teledramaturgia infantojuvenil já viveu uma época áurea na tevê brasileira. O primeiro registro de uma produção deste tipo data da década de 1950, com a chegada de séries norte-americanas. Mas foi só em 1968, que uma história original estreou e abriu o caminho para as demais: A pequena órfã, da TV Excelsior, que contava os desafios e as aventuras de se crescer em um orfanato.

Entre outras apostas de conteúdo infantil, como Sozinho no mundo, da TV Tupi, de 1968; Ricardinho: Sou criança e quero viver, da TV Bandeirantes, também de 1968; e Tilim, da TV Record, de 1970, tais produções floresceram nas décadas seguintes até o grande ápice, em 1997 com a estreia de Chiquititas. A novela argentina foi exibida no SBT até 2001 totalizando mais de 800 capítulos, em cinco temporadas, com troca de elenco. Em 2013, a emissora, inclusive apostou em outra versão para história da professora Elena e seus alunos.

Na memória

A Globo foi uma das emissoras que marcou presença no cenário infantojuvenil nos anos 1990 e 2000. Com Renato Aragão, a emissora apresentou de 2009 até 2014 as produções como Deu a louca no tempo, Acampamento de férias, A princesa e o vagabundo, Nosso querido trapalhão e o Acampamento de férias 2 e 3.

Crédito: Reprodução/TVShow Time – Renato Aragão teve sua cota de programas infantis na década de 2000, como ‘Acampamento de férias’

Já sob o comando da rainha dos baixinhos, a empresa carioca também fez apostas em programas matinais e especiais de natal especialmente para a criançada. Entre os títulos comandado por Xuxa estão Xuxa no mundo da imaginação, TV Xuxa, Conexão Xuxa e 24 especiais de Natal entre 1990 e 2010.

Além disso, outros títulos marcaram a memória, desde Ger@l.com, Dó-ré-mi-fábrica, O menino imperador até o clássico Sítio do Pica-Pau amarelo, que ficou no ar de 1977 a 1986 e depois entre 2001 e 2007 – atualmente tem uma versão animada no Gloob, canal a cabo infantil da Globo.

Agora, com o SBT, as produções vão além. O sucesso das novelas infantis na emissora de Silvio Santos ultrapassam o hit Chiquititas. Alegrifes e Rabujos; Amigos para sempre; Amy, a menina da mochila azul; Carinha de anjo; Poucas, poucas pulgas; Cúmplices de um resgate; O diário de daniela; Gotinha de amor; Maria Belém e Serafín foram alguns dos títulos que fizeram sucesso no SBT nos anos 2000, sendo entre produções mexicanas e releituras tupiniquins.

Um pouco antes disso, outras produções – além dos canais abertos dominantes – também fizeram sucesso. O maior destaque talvez fique com Castelo Rá-tim-bum, programa da TV Cultura, exibida entre maio de 1994 e dezembro de 1977. Outra produção que também ficou na memória foi Mundo da lua, da TV Cultura, exibida entre 1991 e 1992.

O saldo da internet

É difícil apontar com precisão quanto a internet custa as produções infantis na tevê aberta – assim como qualquer outra produção –, mas uma coisa é certa, esse débito existe, afinal, conteúdo para este público é que não falta, e o melhor: com uma audiência que os canais abertos matariam para ter.

Mundialmente, na rede de streaming YouTube (que aplica revisão e política de diretrizes para produção infantil dentro da plataforma), um grande destaque é o EvanTubeHD. Protagonizado por duas crianças, a conta tem mais de dois milhões de inscritos, com mais de 1,5 bilhão de visualizações.

Já no Brasil, o Bel para meninas também se destaca, os vídeos contam com quase 350 milhões de visualizações. Entre o conteúdo, Bel e mãe derretem Orbezz (uma espécie de bola de gude de plástico) na frigideira. TotoyKids, Telmo e Tula, Mundo Gloob, Tem criança na cozinha e Julia Silva são outros canais que se destacam, além é claro do gigante canal do Galinha Pintadinha, com mais de 11 milhões de inscritos e tendo o vídeo mais visto com mais de 573 milhões de visualizações.

E se engana quem pensa que são dois mundos diferentes. O SBT já caminha para uma maior integração com a internet. A novela Carinha de anjo, por exemplo, teve cenas exibidas no YouTube. O canal da novela alcançou 3,4 milhões de seguidores, isso sem contar os números de seguidores e inscritos nas redes sociais das estrelas das novelas infantis. Outro “truque” da emissora é apostar em conteúdo previamente pensados para a televisão e para a internet, como clipes musicais. O Rap da água da mesma novela é um exemplo. A canção, que fala sobre sustentabilidade, tem 20 milhões de visualizações.

Ronayre Nunes

Jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). No Correio Braziliense desde 2016. Entusiasta de entretenimento e ciências.

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