Patrick Selvatti
No ar como a Rita em Amor perfeito, da Globo, a atriz Talita Feuser viveu, nesta reta final, um momento muito especial em sua carreira. “Nesta semana, gravamos a cena do julgamento da Marê (Camila Queiroz) e eu estava recordando os dias de advocacia”, revela ela, que tem formação em direito e atuou durante quatro anos no meio jurídico. Natural de Paranavaí, interior do Paraná, a vocação para a carreira artística veio da infância, quando ela cismou que queria fazer teste para Chiquititas. Mas, ao se mudar para Londrina para cursar artes dramáticas, a moça também se matriculou em uma faculdade de direito. Formada em ambas profissões, conciliou o escritório de advocacia com seu grupo de teatro, até que a vocação falou mais alto e decidiu se mudar para o Rio de Janeiro para seguir a carreira artística.
“O teatro e o direito dialogam em muitos aspectos. No estudo da oratória, por exemplo, no questionamento da sociedade, mas são meios de ação bem distintos. A advocacia exige uma postura mais rígida, já o teatro requer espontaneidade”, afirma Talita, destacando que, na prática, era preciso “ligar e desligar um botão”, já que, muitas vezes, saía do escritório e ia direto ensaiar uma peça. “Os exercícios e jogos teatrais me ajudaram a sair da personagem Dra. Talita e embarcar na atriz. Vivenciar esse outro mundo aumentou a minha bagagem artística e, hoje, o direito me auxilia de muitas formas, inclusive para analisar os meus contratos”, pontua.
Na novela, a atriz de 37 anos interpreta a empregada que se alia à vilã Gilda (Mariana Ximenes) para importunar a vida de Marcelino (Levi Asaf), o que está gerando muito xingamento nas redes sociais. “Confesso que foi uma surpresa muito boa, eu não estava esperando tanto! É óbvio que a gente realiza um trabalho querendo o melhor retorno possível do público, mas é difícil mensurar isso quando estamos gravando. Fiquei muito feliz!”, comemora Talita, ressaltando, ainda, o fato de Amor perfeito ser uma produção de teledramaturgia que dialoga tanto com os ideais feministas.
“Acredito que muitos que dizem não gostar do feminismo, não entenderam verdadeiramente o que ele significa. Se eu estou aqui dando essa entrevista hoje, realizando o meu trabalho, dizendo o que penso, é graças ao feminismo. A novela mostrou isso, inclusive. O direito de voto só nos foi concedido em 1932; até 1962, a mulher precisava de autorização do marido para trabalhar. Só alcançamos a igualdade de direitos e deveres perante a lei com a Constituição de 1988! Isso foi ‘ontem’. Sem falar na violência contra as mulheres! Como não ser feminista?”, conclui a paranaense.
Talita também é autora, compositora e empreendedora. Ela tem dois livros lançados e está trabalhando no próximo. Filha de uma professora de Letras, escreveu seu primeiro poema aos 8 anos. Em 2020, publicou seu primeiro livro de poesias, Cenário implícito, e, em 2022, a dramaturgia Quando chove, ambos pela Editora Urutau. Talita participou da 16º e da 20º FLIP, na casa da Revista Philos, nas mesas sobre “Visibilidades e visualidades: mulheres em cena” e “Dramaturgia de mulheres: para além dos limites do corpo”.
A atriz tem também um trabalho autoral de videopoesia, o videopoema Manifesto urgente, que foi selecionado para vários festivais ao redor do mundo: Maldito (Espanha), International VideoPoetry (Grécia), Lift Off (Reino Unido), Weimar Poetry Film Award (Alemanha), Helios Sun (México) e Linguagem em foco (Brasil). Ela já protagonizou um filme ao lado de Débora Duarte e está no longa Tô de Graça, que será lançado este ano. Em breve, vai lançar também o seu EP.
Talita é sócia dos pais em uma queijaria artesanal. “A Agrolita, que leva meu apelido no nome, é um trabalho que consigo fazer a distância, mas sempre que não estou gravando, me faço presente. O nosso lema é: Do nosso coração para a sua mesa. Curioso que na história da novela tem uma queijaria, a Queijaria Evaristo. A história se passa em Minas Gerais e queijo não poderia faltar”, finaliza a atriz, advogada, escritora e empreendedora.
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