O dia a dia dentro de uma penitenciária. É isso que as séries Orange is the new black, da Netflix, e Carcereiros, da Rede Globo, pretendem mostrar em suas tramas. “Deve-se ter em mente que o contato da população com temas dessa natureza por meio da televisão e do cinema, os torna mais palpáveis, fomentando nos espectadores sentimentos de amor, ódio, revolta, insatisfação com situações da vida real, que ultrapassam a ficção nas telas”, afirma Raquel de Naday Di Creddo, mestre em ciências jurídicas pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) e uma das autoras do artigo Das telas à vida real: O cumprimento da pena e o método APAC.
Os dois seriados têm como inspiração os livros de Piper Kerman e Drauzio Varella, respectivamente, que, são ambos, inspirados em histórias reais. Orange is the new black, na história da própria Piper, que ficou presa em uma cadeia feminina nos Estados Unidos, e, Carcereiros, que tem depoimentos de agentes penitenciários brasileiros entrevistados por Varella.
“Não estamos aqui para glamorizar nada. Mas para mostrar como é. Olhar o que não queremos ver”, define o ator Rodrigo Lombardi, o protagonista de Carcereiros, em teaser promocional da série disponível no aplicativo da emissora. O elenco tem ainda Caco Ciocler, Matheus Nachtergaele, Projota, Letícia Sabatella, Caio Blat, Tony Tornado e Carol Castro. Em um modo inédito de disponibilização, o canal incluirá o seriado no catálogo do Globo Play em 8 de junho, quase um ano antes da estreia na televisão, prevista apenas para 2018.
A produção nacional tem como base o livro homônimo de Varella lançado em 2012 e que faz parte de uma trilogia, que inclui ainda Estação Carandiru (1999) e Prisioneiras (2017). Como o próprio nome indica, a série terá como foco os agentes prisionais, em vez dos presos. “O carcereiro é um personagem muito pouco representado nas histórias de cadeias. Se fala dos prisioneiros, mas não dos homens que tomam conta deles”, analisa Drauzio Varella em teaser da série.
No livro, Varella aborda diferentes histórias de agentes, mas no seriado esses relatos estarão, principalmente, reunidos na figura do carcereiro Adriano, papel do ator Rodrigo Lombardi, um homem que seguiu a carreira do pai Tibério (Othon Bastos) e terá que conter uma rebelião dentro da cadeia e, para isso, usará o poder da palavra. “Cada episódio será uma história diferente desse carcereiro, que representa muitos e tem que lidar com dilemas éticos da profissão e lidar com questões da vida pessoal”, explica o diretor brasiliense José Eduardo Belmonte. Além dos dramas da prisão, Adriano tem que lidar com a cobrança da mulher Janaína (Mariana Nunes) para ter um filho e a criação da filha adolescente Lívia (Giovanna Ríspoli).
Os episódios da primeira temporada de Carcereiros foram gravados em um presídio brasileiro. Para Belmonte, isso fez com que a imagem da série fosse mais opressiva. “Isso muda toda a sua percepção de uma situação limite”, afirma o diretor. Lombardi ainda diz que, por conta da temática, o seriado conseguirá abordar o campo de batalha vivido pelos agentes. “Quem são esses carcereiros? Qual é o valor e o preço que a vida tem quando se está em uma penitenciária? É um campo de batalha, em que ele obedece regras dos dois sistemas”, defende o ator.
Orange is the new black: Rebelião em Litchfield
Se Carcereiros tem uma pegada mais realista em relação ao Brasil, Orange is the new black consegue ser mais ficcional, ao mesmo tempo em que retrata muito do que acontece no sistema carcerário norte-americano. A história começou a ser contada em 2013 pela Netflix em seriado desenvolvido por Jenji Kohan, Sara Hess e Tara Herrmann com foco, inicialmente, na personagem Piper Chapman (Taylor Schilling), uma mulher de classe média que é condenada a prisão por participar de um esquema de tráfico internacional de drogas.
Com o passar das temporadas e o sucesso da produção, o seriado passou a contar mais sobre as outras detentas do presídio de Litchfield, local em que se passa a trama. Na quinta temporada, que estreia em 9 de junho na Netflix, a história se passará em três dias de uma rebelião organizada pelas prisioneiras após a morte de uma das encarceradas por um dos agentes. O principal tema será o embate entre presos e agentes.
Nos episódios, as personagens dizem frases, como “estamos nessa situação porque eles não sabem manter esse local”, “as pessoas não se importam” e “todas nós estamos com raiva”, para justificar a rebelião e os problemas internos da penitenciária feminina, que tem oprimido as presas por conta da superlotação e do mau preparo de quem comanda a cadeia.
Claro que a série se utiliza bastante da ficção, mas retrata aspectos da estrutura prisional dos EUA, que tem uma discrepância estrutural se comparada com o Brasil. “Na prisão de Litchfield todas as presas têm camas, colchões, cobertas, atividades diárias, trabalho e até condições de estudo, não permitindo que fiquem ociosas. Têm ainda à disposição atendimento psicológico e religioso para que consigam cumprir sua pena com dignidade. Essa estrutura é pouco vista nas prisões brasileiras, devendo aí ser traçada a oposição. Por outro lado, os dramas particulares das personagens, suas ações e os motivos que as levaram até a prisão, as relações travadas dentro do sistema, alinham ficção e realidade”, completa Tatiana Liborio Nellessen Perestrelo, graduada em direito pela UENP e uma das autoras do artigo Das telas à vida real: O cumprimento da pena e o método APAC.
“As produções que abordam o sistema prisional conseguem representar uma parte dos problemas ligados ao cárcere, visto que nas telas eles aparecem eufemizados, como por exemplo, o convívio entre os presos e a entrada irregular de celular e drogas dentro dos estabelecimentos.
Os problemas encontrados no cárcere são pouco debatidos, principalmente pelo pensamento segregacionista carregado pela própria sociedade, que ainda defende ideias como ‘bandido bom é bandido morto’.
Para que as aparições de presos em produções cinematográficas, televisivas e teatrais se aproximem ainda mais da realidade, é relevante que sejam retratados em sua complexidade humana. São pessoas, humanos que possuem família, traumas, medos, sentem dores, fome, frio e, além de tudo, sofrem todos os dias com a desídia estatal, que os afasta do convívio em sociedade e os mantém trancafiados em um local distante e, na maioria das vezes, sem qualquer estrutura de higiene, saúde e educação”
Raquel de Naday Di Creddo e Tatiana Liborio Nellessen Perestrelo, autoras do artigo Das telas à vida real: O cumprimento da pena e o método APAC
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